Morangos frescos

É tão complicado querer emitir opinião hoje em dia, é tudo tão politicamente correto, e você pode acabar com processos e dor de cabeça. Um ódio daqui, combatendo o ódio dali. Ter paciência para isso é como ser feliz no mundo de hoje. Admiro quem escreve as coisas sem se esconder em um pseudônimo. Mas vamos lá, o assunto de hoje, está longe de ser sobre política, relacionamentos ou religião. Mentira, é sobre relacionamento.

Você se lembra da sua juventude? Eu tenho momentos que estão frescos na minha memória, como o meu primeiro... amor (?), não, não era amor, era apenas uma esperança de ser uma garota normal no primeiro ano, em ter uma relação colorida com um amigo. Acredite, isso era um grande passo. Eu sempre fui um patinho feio enfiado numa torre bem alta. No alto da torre não havia uma donzela com o estereótipo de princesa da Disney.

Quem estava lá, então?

Uma garota com vários quilos a mais, um sorriso amarelo com aparelho, cabelos cacheados e sempre presos, testa cheia de espinhas e óculos cafona. Era uma fase complexa, ser nerd era a opção, afinal, não tinha coragem e permissão para mudar a cor do cabelo para vermelho e ficar ali no fundo da sala, mascando chiclete e falando de bandas que não são famosas.

E o grupo das descoladas? Acabei de falar do patinho feio, tenha dó. Aquela amiga dos meninos? Ah, era feia demais até para isso. Quem era você então? A nerd sem paciência, respondona, arrogante e feia. Tirar boas notas e ser bajulada por professores, isso era o que tinha. Até quando eu liguei o foda – se, comecei a tirar notas baixas, tinha meu respeito de nerd. Mas aí, é outra fase da minha juventude, conto para vocês em breve.

Mas... Qual o objetivo desse texto mesmo? Ah sim, claro. Quando achei que estava fazendo um super amigo, e isso por influencia de algumas novas amizades, que só me curtiam por ser grossa, esse “super amigo” resolveu dar um passo a mais comigo. Foi estranho, mas pensei “vou beijar pela primeira vez!” Verdade? Não. Os dias passavam, meus pais por algum motivo não me deixavam sair de casa, bom, eles nunca deixavam... Mas uma grande tarde veio! Minhas amigas me ligaram correndo, me chamando para ir até a casa de uma, porque ela estava arrasada, o seu possível grande amor estava terminando com ela, e eu estava lá, apoiando. Dizendo ‘Aguente firme!”.

Fim dessa tarde, escuto a frase que deixa qualquer um fora do sério “A gente precisa te contar uma coisa.”. O que poderia ser? Não fazia nada de errado, não havia nada que pudesse ser preocupante para mim, dei de ombros e esperei a noticia. “Ele só quer ficar com você porque é uma aposta, uma aposta de quem fica com a garota mais feia do colégio.”.

Ser durona era o meu papel, tremi, olhos marejaram, mordi a bochecha, queria me acabar de chorar e dizer “Tantas conversas... E tudo mentira?”. Porém, o que ocorreu foi: jogar de ombros, sobrancelhas arqueadas, leves tremores, olhos firmes em um ponto, marejados, bochechas sendo mastigadas internamente, e nenhuma cara de surpresa, soltando um “de boa, tava achando estranho essa conversa dele mesmo, haha. Alguém quer coca?”.

Definitivamente, não teve um final agradável, mas sabe, as emoções que tive, pela primeira vez com o “amor”, me marcaram. O primeiro desespero de fato, a primeira e pura tristeza de um coração partido. Não me lembro com dor, me lembro com uma sensação gostosa, uma sensação de doce e azedo, como morangos frescos saboreados pela minha mente ao visitar um arquivo antigo.

Gianpaola
Enviado por Gianpaola em 18/10/2014
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