COMO SE O MUNDO NÃO FOSSE ACABAR NUNCA
Sentir o coração disparado, a ansiedade controlando a respiração e o medo deixa seu cheiro na transpiração para que os inimigos imaginários possam saber que haverá discordância ao redor. Nas ruas e nos meios de comunicação que não se comunicam não podemos deixar de escutar os berros que se reproduzem, lamentações e frustrações pessoais que contagiam como um vírus fatal, que não permite detectar o surto de ódio que contamina a muitos que parecem felizes ao possuir e disseminar, como se o mundo não fosse pacificamente possível. Barulho de passos apressados, automóveis desgovernados atravessando sinais vermelhos em semáforos descontrolados, enquanto nas esquinas se aglomeram multidões que não podem atravessar para o outro lado. A primeira gota de água que cair da chuva será capaz de provocar uma guerra, entre aqueles que ignoraram o primeiro raio da manhã como se o mundo houvesse acabado ontem. É preciso encontrar abrigo, antes que o pânico tome conta de tudo, antes que desprezo e deboche ao próximo se torne algo corriqueiro e considerado sadio para promoverem às massas com overdose de informação. Havia vida ali onde hoje só se encontra ignorância e agressividade, como se o mundo fosse um único cenário apodrecido retratando uma guerra social. Mas vamos lá, consumir é palavra de ordem, e aí não importa se os recursos se esgotam, se a vida se encolhe, desde que a satisfação de possuir lhe garanta o prazer, como se o mundo não fosse acabar nunca.