TESTEMUNHA OCULAR

e souza

O edifício na Rua São Francisco de Assis, 286, apartamento no nono andar. Da varanda se pode observar uma rua sempre calma, essa calma só é quebrada pelas crianças, suas babás e mães no parque do lado direito, todas as manhãs, as mulheres conversam enquanto as crianças se divertem nos brinquedos e no banco de areia. Às vezes se ouve; “Pedrinho, aí não!” “Patrícia, já prá cá!” E assim a manhã se passa. Nas tardes quando o sol já baixou, ou quase, alguns idosos se juntam para um bate-papo, ou um bom jogo de dominó. Daqui é possível ver e ouvir o que acontece nos apartamentos do prédio da frente. Dias atrás, estava na varanda e pude ouvir o que parecia ser um ‘grito’ de um gato, e ouvia também uma voz masculina que dizia algo como: “não, não, sai prá lá, você ficou louco é...?” Um homem saiu para varanda e se sentou à mesa com o que parecia ser um jornal totalmente aos pedaços. Contei as varandas e o apartamento é no oitavo andar. Por muitas vezes quando em casa estava, pude ouvir alguns gritos do gato e do homem, daí tive a certeza de que eles andavam se estranhando, e como acontecia sempre nos domingos, aquele homem ia para a varanda e lia seu jornal. De onde estou posso ver a varanda toda e o que nela se passa. Fiquei ali observando a rua, a praça com as crianças, os pássaros que voavam, num balé aéreo e passei meu olhar pela varanda e notei que o tal gato e seu dono estavam se dando bem, pois o bicho estava deitado no chão aproveitando o sol. Um Bem-te-vi pousou displicentemente na balaustrada daquele oitavo andar, o homem e o gato só ficaram olhando, o pássaro desfilava bem perto deles. Num dado momento, percebi certo incômodo naquele homem que fechou seu jornal muito calmamente e pude ver também que o floquinho de algodão ensaiou algumas reboladas, pude ouvir que seu dono gritou algo para ele, mas o bichano não tomou conhecimento e saltou para o ataque ao pássaro, o homem com as duas mãos na cabeça, só pode ver o pássaro voar para longe e o gato, quase não pude olhar a cena do bicho caindo, levou uns cinco segundos para estatelar no piso do condomínio. Muito rapidamente desci para a portaria e em minutos pude ver o porteiro conversando com aquele homem, ele o pegou do chão e o segurou como se um bebê fosse. Ali ficaram. Voltei para o meu apartamento. Dias depois pude notar um movimento no apartamento, era alguém retirando as cortinas da varanda e não mais vi aquele homem na varanda lendo seu jornal, acho que não querem mais morar ali, pois foi horrível aquele salto no nada. É isso ai.

e-mail: edsontomazdesouza@gmail.com

E Souza
Enviado por E Souza em 17/10/2014
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