Bicho, você gosta de quê?
 
Vive-se uma época em que a humanidade tem sentido compaixão para com os animais.
 
- Ah, ia me esquecendo de dizer que o “Bicho” foi uma gíria muito usada nos anos 70 -
 
Muitos, porém, se degradam destruindo sua própria dignidade buscando vícios e violências. Esta será talvez a dicotomia do comportamento  humano.
 
Quais as razões para isto? Ao mesmo tempo em que nos conscientizamos que o planeta não é somente nosso, assistimos os efeitos das injustiças sociais, do abuso do consumismo, do desrespeito consigo mesmo e com o outro.

Coloca-se  nas  esquinas  das ruas e portas de casa água fresca e rações. Todos os bichos  – pombos, gatos e    cães – aproveitam a oferenda.

***

Ao perceber que uma pequena área de serviço estava sendo visitada por pardais, beija-flores, pombas rolas resolveu aderir à moda. Comprou-se “casinha” para nela ser colocada toda sorte de alimentos para pássaros neste substituto de antigas gaiolas.
As pombinhas, sempre em casal, e os pardais agradeceram o agrado. Para os beija-flores comprou-se bebedouro próprio para pendurá-los nos vasos que há na área. Toda manhã são religiosamente lavados com cloro e água corrente.
A área de serviço virou área de recreação para a passarada toda.

***

Em uma manhã destas  ouviu-se da casa vizinha:
- Por que você prendeu esta mosca varejeira neste pote?
A resposta foi um tanto inusitada:
- Para proteger a mosca e depois soltá-la.
Ao que o primeiro interlocutor enfatizou:
- Não! A mosca é bicho nojento e transmite vermes. A gente deve proteger somente os bichinhos dengosos.
 
Vai entender os porquês e os para quês desta humanidade. Por que julgar é fácil bem como criticar loucuras alheias.
Pois não é que na mesma semana apareceu, na casa da referida área de serviço onde os passarinhos dengosos fazem a festa, um pequeno camundongo?!
Qual foi a medida tomada?
Nada de queijinho ou biscoitinho para o infeliz roedor. Bonitinho, mas transmite doenças, urina em alimentos e se esconde e vive nos esgotos.

O certo foi comprar veneno e espalhar por cantos estratégicos da casa. Não demorou muito para o ratinho experimentar o ‘doce veneno’.
Passaram outros dois dias e lá estava o rato lerdo como pateta. Mal conseguiu reagir. Buscou-se vassoura, pá de lixo, sacola e luvas para tirar o moribundo dali. Mas, mesmo com a sua lerdeza letal ele conseguiu se safar para morrer no encanamento de esgoto mais próximo. Viu o buraco e tonto entrou nele.

***

E assim é: cada um sabe a delícia e a dor de ser o que se é!
Aos pássaros, antes gaiolas neles e eles nelas para que fossem ouvidos seus tristes cantos e ver seus encantos. Agora farelos e água tratada. Às moscas e ratos sua marginalidade e suas peculiaridades de contágios bem longe de nós.
Quem arriscaria cuidar de moscas e ratos de esgotos se até pombos são perigosos ao ser humano?
E o que é o homem para com seus semelhantes, para com os bichos e para com o planeta e para consigo mesmo?


É um tremendo Bicho Grilo com seu cricrilar!
 


Leonardo Lisbôa
Barbacena, outubro de 2014.
 
Leonardo Lisbôa
Enviado por Leonardo Lisbôa em 17/10/2014
Reeditado em 22/10/2014
Código do texto: T5002898
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