Nosso céu de cada dia.

Hoje olhei meu céu, de maneira diferente. Sim, o meu céu, o mesmo que é meu, seu e de cada um dos mortais que andam sobre esta Terra.

Percebi a beleza de poder admirá-lo. De não precisar pagar nada para fazer isso.

Noite. Vi o brilho das estrelas. Muito desse brilho pode estar vindo de estrelas que não existem mais. Percebi que posso ver o passado.

Meu céu (que também é seu) foi ficando laranja do lado Leste. Amanhecia. As luzes do arrebol, revelando segredos para almas que se propõem a interpretá-los, sem mistério, sem pecado. Pois nada é proibido.

Quando – por muitas vezes tenho feito isso – paro para observar o céu de madrugada, revejo minhas verdades e minhas mentiras. Todas. As que ouvi e as que disse. Tomei de empréstimo ao vento, muitas vezes, o ar para embalar minhas palavras. Nem sempre fiz isso com responsabilidade, posto que a vida ainda me dava a juventude e sua característica inconsequência. Hoje ela me dá momentos assim, de puro êxtase, na simples contemplação de meu céu. Dia ou noite.

Então, num estranho "insight", veio-me a resposta a uma pergunta muito antiga: por quê a vida – o bem mais caro – veio assim tão frágil?

Lembrava que sempre comparei a vida como a chama de uma vela presa entre minhas mãos e que poderia ser apagada com um leve sopro.

Por quê tão frágil?

Então "ouvi" a resposta trazida pelo vento que sempre emprestou asas às minhas palavras: "é frágil, para que tenhas o máximo de carinho e cuidado com ela, pois, tanto quanto é frágil, é sagrada!"

Nunca doeu tanto em meu coração, saber que não temos dado à vida o seu devido valor. Saber que tantos nunca se preocupam com ela, a ponto de nada sentirem diante de notícias – cada vez mais freqüentes – de mortes e mais mortes, interpretadas apenas como "notícias".

Mas que notícias são estas que contam tão friamente do fim de tantas vidas? Por quê só valorizamos a vida na iminência de perdê-la? Onde foi a sensibilidade que veio agregada a ela quando de nosso nascimento? Que caminho é esse que estamos trilhando?

Meu céu me conta que nos afastamos perigosamente de nosso glorioso destino de fazedores, co-criadores do mundo.

O dia chegando, me deu o sol. Mais uma etapa para celebrar a vida a cada gesto e palavra do cotidiano.

Nem sempre meu céu tem sol. Mas mesmo as nuvens, com suas sombras e tempestades, me trazem a certeza de que a vida é, acima de tudo dinâmica, pois tudo que pára entra em processo de estagnação e morre. E, ainda, que nada é definitivo, há ciclos em tudo e a mudança é uma espécie de lei. A única coisa permanente.

Não há nenhuma ilusão de santidade nisso, apenas a razoável certeza de que a idade nos torna mais lúcidos, quando sobrevivemos. Que, quando conseguimos deixar aflorar a criança que nos habita, jamais nos serão negadas as respostas que procuramos.

Pergunte ao seu céu de cada dia!

JOAQUIM SATURNINO DA SILVA
Enviado por JOAQUIM SATURNINO DA SILVA em 17/10/2014
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