Indecisão
 
Das certezas que tenho, a mais forte é a indecisão.
Erlan Ribeiro

 
“Vota na Dilma, cara! A vida da gente melhorou tanto!” Inevitável ouvir essa aula de ciência política, ao passar ao lado de dois flanelinhas conversando no estacionamento. Há também quem diga que votaria até no Fidelix, pela mudança de poder.
Morro de inveja de quem tem tanta certeza. Inveja da certeza, não da falácia de que quem vota pela reeleição é corrupto, comprado pelo Bolsa Família ou apenas muito burro e não “vê o que há por aí” - e, este o-que-há-por-aí vai desde a corrupção exposta diariamente nos noticiários, até um mirabolante plano de implantação do comunismo no País -, ou de que Aécio é um playboy que nunca trabalhou, político profissional, viciado em drogas e ligado ao tráfico. Desta argumentação imbecil, tenho é pena, não inveja.
Invejo a sensatez de pessoas em ambos os lados dessa balança, que defendem sua escolha de forma bastante consistente, enquanto eu, a cada instante me sinto mais indecisa. Não sou só eu. A pesquisa do IBOPE divulgada nesta quarta-feira apontou o aumento de votos brancos e nulos (de 6 para 7%) e indecisos (de 4 para 5%). Considerando como são feitas essas pesquisas - no primeiro turno, falharam vergonhosamente e soube até que algumas delas circularam desfalcados dos candidatos nanicos dentre as opções -, duvide-se desses números além da margem de erro confessada.
O fato é que ambos os candidatos têm vantagens e desvantagens. Dilma, mais pelos avanços sociais, Aécio pela recuperação da economia. Aécio, para que a mudança de poder revitalize os postos de gestão nos órgãos do executivo, Dilma, para que a política PSDBista de privatizações e arrocho do servidor público não se repita.
A propaganda eleitoral não ajuda. Os embates, digo, debates menos ainda. Embora o candidato tucano apresente um melhor desempenho neles, é difícil acreditar em qualquer coisa dita ali entre mentiras e desmentidos.
Daí que a urna está se aproximando e ainda não sei o que digitar nela para ouvir o biruliriluri que me faça partícipe dos destinos da nação.
O que me consola é a esperança: se até a Marina decidiu, eu vou conseguir também. Talvez vá atrás dela... Talvez, não.

 
Texto  publicado em minha coluna de sexta-feira (17/10/2014) no Jornal Alô Brasília.