A "ESCADA"
Costumamos ensinar às crianças que “Papai do Céu” não gosta de que façamos certas coisas. Se lhes perguntarmos onde fica o céu, elas olharão para cima e durante muito tempo acreditarão que lá nas nuvens mora um Senhor que tudo vê e nos recompensa ou nos castiga pelo bem ou pelo mal que façamos aqui na Terra. Então, no senso comum, irmos para o céu pressupõe subir, assim como para o inferno depreende-se que signifique descer.
Nessa linha de raciocínio, lembrei-me de “escadas” e fui buscar as suas origens. Descobri que as primeiras são datadas de cerca de 2.000 anos antes de Cristo e teriam sido inventadas pelos egípcios e hebreus, tendo como intuito não exatamente o atual, que é o de “subir a lugares mais altos”, mas o de ser adorno para mausoléus e monumentos. Já as primeiras escadas como as nossas atuais teriam sido construídas em Atenas e Roma, por volta do século 10 antes de Cristo.
Metaforicamente, penso que viver é semelhante a subir uma escada. Estaríamos no primeiro degrau logo ao nascer e teríamos como intuito, inconsciente, subirmos indefinidamente, até que um dia retornemos ao local de onde viemos: o espaço sideral, a morada do “I AM WHAT”, do grande arquiteto do universo, que espera que durante a nossa escalada até ELE, consigamos as duas chaves que nos permitirão entrar: a coragem e o amor. A primeira para subir todos os degraus com a decência que os Seus filhos devem ter, e a segunda para reconhecer no outro um irmão e com ele exercitar esse valor.
Em minha empreitada, por diversas vezes encontrei GENTE a quem serei eternamente agradecida, porque me deu a mão e, pacientemente, guiou meus passos, me trazendo até onde eu estou. Entre os meus guias estão meus pais e alguns amigos queridos, entre os quais coloco Maria Consuelo Quitiba Lofêgo e Guerino Luiz Zanon, as duas primeiras pessoas a acreditarem em meu potencial profissional e abrirem as portas do trabalho para mim.
Mas houve, também, “répteis” que me “picaram”, “roubaram a minha luz e arrancaram da minha garganta a voz”. Por causa da maldade ou do veneno deles, eu tropecei algumas vezes, retrocedi diversos degraus, fiquei purgando e chorando, passando cuspe nos meus joelhos, aguardando que a dor passasse e as feridas cicatrizassem. Confesso que muitas vezes esperei que Deus me permitisse vê-los passando por mim, rolando até se estatelarem no chão, mas Ele não alimenta nossos sentimentos de vingança.
Em minha ascensão, na condição de professora, eu encontrei pessoas que começaram a subir depois de mim e, sempre que possível, eu lhes estendi minhas mãos e as incentivei a prosseguir. Algumas vezes, porém, por pura galhofa, eu escolhi alguns para serem meus office boys, sem prever que todos eles, um dia, poderiam abrir portas ou fechá-las para mim.
Há alguns anos, graças ao Facebook, eu encontrei um ex. “escravo”, que, quando pré-adolescente, foi meu aluno de inglês, no Yázigi, em 1976. Nessa época o referido instituto de idiomas funcionava em uma das salas do edifício Patrícia, em cima da padaria Skip’s. Suas aulas eram às 16horas, e ele tinha por hábito chegar às 15horas, recém- banhado, cheiroso, e, eu penso, que era só para satisfazer os desejos de sua “rainha” (eu!!), que lhe “pedia”: “Desce e vai comprar pão doce para eu, você e Gélia Tavares tomarmos café!!” Ele me olhava com seus lindos olhos azuis, reclamava, mas ia!! Olha que isso acontecia duas vezes na semana.
Esse meu antigo “office boy” chama-se Pedro Alberto Calmon Holliday, um dos filhos de dona Ita e do Dr. Patrick, pessoas incríveis, que nos legaram exemplos de amor às letras, à cultura e às artes, além de outros descendentes maravilhosos, que seguem fazendo bem à humanidade.
“Meu escravo” hoje é juiz federal em Ihéus, na Bahia!! Já imaginou se um dia nós nos encontrarmos em algum degrau dessa escada? Acho que, no mínimo, ele vai me fazer “comer o pão que o diabo amassou com o rabo”!! Rs,rs,rs...