PÁSSAROS FERIDOS

O casal de bem-te-vis fez o ninho no 3º andar de um hotel que está fechado, numa cobertura de um aparelho de ar condicionada instalado e esquecido em uma das janelas.

Foi um trabalho de dias, num ir e vir incessante e trinados a todo instante, e finalmente o lar ficou pronto.

Passam-se alguns dias e pássaros sem asas e sem canto, quiçá encanto, dotados de braços que respondem a estímulos pouco racionais, iniciam uma reforma no estabelecimento e, sem qualquer constrangimento, derrubam a pontapés a caixa do ar condicionado que voa

violentamente ao chão, espalhando palha e pequenos gravetos pela calçada.

Nisso surge o casal, dono da residência. Pousam nos fios da rede elétrica e trinam em uníssono, qual um protesto dolorido, não mais um bem-te-viii, mas um só trinado que parece soar não, não, não-te-viiii, não querendo acreditar na tragédia que os assola.

Quem sabe algum dia os sem asas aprendam a voar, e consigam ampliar sua visão, entendendo que a humanidade precisa de asas no coração.