O encantador de Cavalos
Conheci um encantador de cavalos. Ele me disse que qualquer pessoa pode aprender a arte de cochichar nos ouvidos dos cavalos e encantá-los, mas advertiu que, antes tem se que aprender a escutar o cavalo que dorme dentro si mesmo. Para isso afirmou, é necessário aprender a ficar em completo silencio interior, vazio.
O encantador de cavalos é um homem generoso e me pareceu uma pessoa feliz embora seu olhar calmo e profundo revelasse uma tristeza outonal.
Ele tinha uma incrível habilidade para fazer perguntas e respondia as perguntas com outras perguntas, como se as respostas não fossem importantes.
Ele me contou também sobre a beleza que é contar e ouvir histórias;
disse que a história de todo mundo é uma bela história, basta ouví-la com atenção. Ele me lembrou do poeta que disse que toda pedra é diferente quando a temos nas mãos e olhamos devagar para ela.
Eu já viajei por muitos mares e cidades distantes, através dos livros, desde a biblioteca da minha pequena cidade até a histórica de Alexandria, onde fui levado pelas mãos do cego Borges e encontrei Virgilio, Heráclito, aquele do rio que nunca permanece o mesmo. Também li o grande poema de Whitman, com quem aprendi que somos poeira de estrelas. Mas raramente experimentei a sensação de ter pescado um extraordinário peixe, raramente a efêmera, mas maravilhosa sensação de ter encontrado um unicórnio azul.
Neste Agosto, paradoxalmente o mais seco dos meses, pude sentir que as sementes começaram a se abrir. Pude por alguns instantes cochichar nos ouvidos do cavalo que há muito tempo estava adormecido em mim, ignorando o imenso campo coberto pelo capim mais verde.
O encantador de cavalos, sem querer ensinar-me, ensinou-me que a sabedoria não está nos livros, mas sim, dentro de cada um de nós e se revela quando deixamos de ser apenas Eu e nos tornamos Nós, quando aprendemos a observar e a ouvir o outro.
Desejei vida longa a este Homem encantador
Homenagem a Henri lipmanowicz.
Vice Presidente Internacional da Merck