Tudo Muda...
Há alguns dias, acordei de madrugada com o coração batendo na garganta. Um pensamento tinha me acordado: "Daqui a um ano, você terá cinquenta anos." Me dei conta do quanto o tempo passou. Sei que é um cliché falar sobre a passagem do tempo, mas às vezes tenho a impressão de que andei meio-adormecida durante alguns anos, como na história da Bela Adormecida, e quando acordei naquela madrugada, percebi que muitas coisas tinham acontecido.
Acabo de olhar pela janela, onde meus dois cães, Aleph e Latifah, costumavam brincar enquanto eu dava as minhas aulas. Hoje, eles não estão mais ali. Brincam dois cães diferentes, Mootley e Leona, que vieram para esta casa há apenas alguns meses. São dois bebês, ainda. Eles correm e latem, pulam e carregam seus brinquedos na boca, correndo um atrás do outro. Correm pelo mesmo jardim por onde corriam meus dois outros cães.
Nesses anos durante os quais me pareceu que andei dormindo (e tendo alguns pesadelos horrorosos), foram embora meu sobrinho e minha mãe. Os outros sobrinhos que até bem pouco tempo brincavam por aí e que eu levava à escola, cresceram, e um deles vai casar-se em novembro. Quando ele veio com a noiva trazer-nos o convite, nós ficamos nos lembrando de alguns fatos engraçados que aconteceram quando eu o levava e buscava na escola... confesso que uma das histórias que ele contou eu já nem lembrava mais.
Abri e fechei portas. Revi minha vida. Ficou quem queria ficar, e simplesmente não segurei mais quem nunca fez questão. Deixei ir. Na verdade, dei uma pequena ajuda. Percebi que foi melhor para mim e para eles, pois estávamos envolvidos em um relacionamento forçado pelas circunstâncias da vida, e não compartilhávamos nada. Doeu, mas hoje sinto uma leveza que não sentia antes.
Tudo muda. Hoje, posso dizer que não tenho mais medo das mudanças. As coisas vem e vão, as pessoas também. Acho que estou vivendo agora uma fase de renovação, e uma das melhores fases da minha vida, apesar do susto após a constatação de que já vivi mais da metade dela...
Na Beira do Mar
Na beira do mar, contando as ondas,
Sentavam-se os meninos, a pescar.
O sol se punha e se levantava
Dia após dia, sob cada olhar.
Até que os meninos perceberam
Que não havia mais ondas a contar.
Mergulharam, indo bem rápido ao fundo...
Nunca se lembraram de voltar.