VÔO RASANTE
Sabe aquele passarinho, que passou a vida toda, preso na gaiola...
Um dia seu dono esquece a porta aberta.
O passarinho, por várias vezes, ensaia o vôo à liberdade, sonha, imagina, receia... Aos poucos, aproxima-se da porta, sente um cheiro diferente, uma brisa diferente. Eram sensações jamais vividas. O cenário não era mais listrado, as grades já não interferiam.
Arrisca-se ao primeiro vôo. As primeiras batidas das asas são atrapalhadas, meio sem prática, perambulando daqui dali, suspenso no ar, parecia estar sem fôlego, nunca tinha sentido o gosto da liberdade, teve medo, resolve voltar à gaiola, não estava pronto para voar mais alto, enfrentar vôos mais longos.
O vento no rosto, o gosto do ar, a sensação de ser livre não lhe saia da cabeça. Estava decido, iria alçar vôos mais altos. Num desses vôos, chegou muito próximo ao solo, faltou pouco, muito pouco, para chocar-se, deu um rasante, (puro instinto de sobrevivência) tomou o prumo, ganhou altura, recobrou a consciência e retornou a gaiola. Com as asas tremendo, prometeu, a si mesmo, nunca mais fazer vôos arriscados.
Depois do grande susto, decidiu só realizar vôos seguros e tranquilos. Nos vôos que se seguiram, sentiu o prazer, seguro, de liberdade, mas sem abrir mão de retornar à sua gaiola.