Premiação
Tem a história dos índios de que temos um cachorro mau e um bom que andam dentro da gente. E que acontece de nos valermos de um ou do outro no cometimento de nossas ações.
Parece que algumas pessoas nos despertam o cachorro mau. Ou nós é que permitimos que ele aflore. Se nos lembrarmos de que somos seres terrivelmente poderosos, mais que um cachorro, e ao mesmo tempo incrivelmente frágeis, podemos concluir que não precisamos soltar o cachorro mau em cima de ninguém.
Após os 60 anos, como podemos constatar por aí, um número bem acentuado de óbitos é devido ao câncer. Apenas as doenças do coração são as que matam mais que o câncer.
O corpo humano é uma poderosa indústria responsável por uma produção ininterrupta de células em escala exponencial. Duas que se transformam em quatro, depois oito, depois 16, 32, 64, etc. Se em apenas uma dessas infinidades de células ocorrer uma deformação, podem se estabelecer as condições para o desenvolvimento de uma modalidade de tumor cancerígeno.
Por isso são enormes as chances que temos de contrair essa doença. Chances que gravitam no universo abundante de células de que se constitui o corpo humano. O que pode ser considerado tão apavorante que, tempos atrás, não se costumava dizer “câncer” à toda hora. Preferíamos nos referir à doença como “coisa ruim”.
No entanto, face aos progressos da ciência e também ao progressivo número de mortes por câncer, apesar do combate agora mais exitoso oferecido pela medicina, passamos a nos referir à doença de forma mais explícita.
Concluímos então que, se pensarmos mais um pouquinho, não precisamos desejar o mal a ninguém. Porque a batata de todos está permanentemente sendo assada. Ou, no mínimo, em banho-maria.
Também não adianta muito nos apavorarmos. Já que são enormes as chances de sermos “premiados”, vamos aproveitar os nossos momentos, deixando a “premiação” a quem tem competência para concedê-la.
Rio, 13/10/2014