SALA DE ESPERA DA UTI

Nós, os que estamos lá, temos algo em comum. Temos algum parente lá na UTI.

Uns chegam e logo vão embora, pois o seu parente obteve alta.

Outros demoram. Freqüentam a sala por 1 mês ou mais. Aos poucos vamos nos conhecendo uns aos outros. Vamos descobrindo os nomes, onde moram, de que os seus queridos estão padecendo. Se foi cirurgia ou AVC, se infarto ou pneumonia.

Um dia você conforta, no outro é confortado. Tem dias em que todos precisariam ser confortados e animados. E quando chega a hora da visita e falta alguém? Há aquela preocupação. Será que o parente dele já partiu ou teve alta?

Lá não se sabe o status social de ninguém. Lá ninguém tem mais que ninguém. Ninguém é mais que ninguém.

Momentos de alegria são poucos. Há poucos momentos de melhora. Mas também a sala de espera é um lugar de fé e até de oração. De desabafo, de confidencias, de terapia, de choro. E a matemática da sala? Há quantos dias o nosso querido está lá?

Casos são contados, revelações são feitas. Esperanças são reerguidas. Requisições de exame são assinados, protestos são externados.

A porta principal às vezes se abre com 10, 20 ou 90 minutos de atraso. Não importa. Os freqüentadores desta sala esperam pacientemente, ou às vezes, com impaciência.

O corredor que dá acesso á porta interna da UTI, esse é frio. Frio porque a temperatura é mais baixa, frio, porque estamos mais perto dos pacientes e da realidade. É o corredor que mostra o semblante de cada um após a visita. Tristezas, esperanças, desesperanças. Alegria, poucas vezes.

Mas a porta da UTI é também a porta da esperança. Ali também é onde acontecem os milagres. No meio de aparelhos que apitam, respiradores os mais diversos, monitoração etc. sempre resta a esperança que o nosso ente querido, saia para o apartamento ou para casa, para nunca mais voltar. Outros vão direto para o céu, vão descansar em paz.

Recife, 13/02/99.

Carlos Alfredo Melo
Enviado por Carlos Alfredo Melo em 13/10/2014
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