Pessoas & Migalhas

Eu costumava me envolver mais, pelo menos, emocionalmente, na política. Defendia com mais paixão as minhas posições, ainda que deixasse sempre uma saída honrosa para as opiniões contrárias, o que é provavelmente o cerne do embate democrático. Com a descoberta de que as pessoas que compõem um lado são da mesma matéria que as do outro (santa ingenuidade!), reorganizei meu discurso, baixei o tom e reconsiderei ser a cautela observadora mais salutar que o entusiasmo realizador. Dizem que a decepção reflete a intensidade do despreparo do decepcionado para lidar com o objeto de que trata. Em outras palavras, somos responsáveis por aquilo em que acreditamos. Evidentemente, em se tratando do que iremos decidir agora (quem será presidente) o seremos mais do que nunca. O que irá prevalecer: uma nova aposta no social, eventualmente em detrimento do econômico, ou o contrário? Qualquer coisa que se diga a respeito de probidade será sempre um retorno à ingenuidade que me referi antes. Bem, vale ressaltar que, nesta minha reflexão relâmpago e certamente provisória não entra qualquer tipo de preconceito, coisa que me vira o estômago e inviabiliza diálogos. A complexidade do emaranhado de interesses é o propulsor dos apoios e alianças; o vetor que indica a direção dos destinos da massa da qual faço parte. Assim, com tantos calos a me entortar, não consigo ver nada de novo no front, apenas alienígenas numa guerra em que os pobres terráqueos limitam-se a torcerem pelo lado que lhes parece mais provedor de migalhas espaciais.