Um estranho no Recanto
Ele se cadastrou e colocou os dados necessários à sua habilitação para poder surfar na Internet através do Recanto das Letras, local em que publicaria despretensiosos textos com o objetivo de conquistar a atenção de uma pequena fatia dos usuários, realizando com isso o sonho de exibir a criatividade latente que sabia existir dentro de si, e que ali teria um campo fértil para se revelar por inteiro.
Sabia que a jornada não seria tão fácil como imaginara no início, e que existiam certas regras, tendências e comportamentos a serem assimilados para que o objetivo final fosse alcançado. Não bastaria somente publicar textos, mas que fossem de qualidade para não tomar o tempo dos usuários com trabalhos medíocres. Pelo fato de ser estreante, teria que fazer um trabalho de formiguinha nas bases, como se diz no jargão político, para ir cativando aos poucos os colegas, atraindo-os para o produto final de suas ilações, por vezes extemporâneas.
Certamente um trabalho hercúleo, eis que disputaria essa preciosa atenção com miriades de escritores veteranos que detinham certo monopólio nesse espaço, merecidamente conquistado mediante a postagem de primorosos textos ao longo de anos e anos de labuta, inclusive comercializando suas obras no próprio site.
Realmente, não seria tarefa fácil enfrentar esses gigantes da literatura, ainda que alguns não passassem de simples escritores entusiastas, como ele, porém sabidamente detentores de um estilo invejável e altamente competitivo no campo literário, onde, a rigor, todos corriam atrás de seus sonhos mais excêntricos, dentre eles o de ser um dia reconhecido como escritor de fato, e não um simples usuário sem maiores pretensões nessa área específica.
Mas, como toda grande caminhada começa sempre com o primeiro passo, arregaçou as mangas e pagou para ver.