A gata
Tratava da gata todos os dias. Nunca esquecia. Mas fazia com tanta pressa que nem olhava para o animal. Não reparava o seu tamanho; se estava mais gorda ou mais magra; se seu pêlo estava limpo ou sujo. Não reparava. Tudo era muito rápido.
Pegava serviço cedo e mal mal tinha tempo de empurrar a tigela cheia de leite — de vez em quando colocava biscoitos também — e fechar a porta da área. Então, saía correndo pelas escadas até chegar à rua.
O tempo passando e ele sempre tratando da gata. Não esquecia nunca; todos os dias. Continuava não reparando nela. Alguns amigos sabiam que ele tinha uma gata e de vez em quando um perguntava para ele como estava a gata. Ele respondia que não sabia.
“ Como não sabia? “ Não sabia ué! Não reparava! Não tinha tempo. Mas tratava dela todos os dias. Não esquecia nunca.
Um dia não foi trabalhar. No outro também. E mais outro e outro. Os colegas de trabalho e o dono da padaria — onde tomava café pontualmente todos os dias, antes de começar a trabalhar — começaram a ficar preocupados. Ele era tão responsável. Será que estava doente? Tão doente que não podia dar um telefonema? Então resolveram verificar o que estava acontecendo: marcaram de se encontrar na porta do seu apartamento.
Na hora marcada estavam todos lá. Eram dez: nove colegas de trabalho e o dono da padaria. Bateram a campanhia. Uma, duas, três, quatro e nada. Então bateram na porta várias vezes. Tantas que o barulho atraiu vários vizinhos. Resolveram , então, arrombar a porta e encontraram uma gata amarela, enorme — devia pesar uns quarenta quilos — deitada em cima do sofá com uma barriga enorme.