O Vento

Acordo com o sol e me ponho a passear: pela grama, pelas estradas, por sobre o mar. Minhas origens são tantas, que me é até difícil contar. Para gregos e romanos, divido-me em quatro: como Bóreas, venho do norte e sou frio e rigoroso; sendo Zéfiro, venho do oeste e, embora seja às vezes impetuoso e funesto, posso transformar-me em uma gentil brisa; vindo do leste sou conhecido como Euro e, quando vindo do sul, sou chamado de Noto, sendo estas minhas formas menos conhecidas e reverenciadas. Sempre acompanhado das Estações, sou cultuado como o protetor da agricultura e das navegações.

Estive presente em todas as etapas da evolução deste mundo e posso afirmar que nem mesmo Zeus, tão ocupado com seus amores, sabe mais do que eu. Vi a ascensão e a queda dos dinossauros, a evolução das espécies, os passos cada vez mais firmes do ser humano. Entristeço-me ao acompanhar a destruição que este causa a si mesmo e ao ambiente em que vive. Invasões bárbaras, cruzadas, primeira e segunda guerras mundiais, e assim por diante, vejo-os cometendo todo o tipo de erros, mas o pior de todos eles foi quando começaram a despedaçar-me com aquelas ondas negras sufocantes. Assim, para vingar-me, tornei-me bruto e traiçoeiro, passando a atormentar suas vidas assim como eles atormentam a minha. Entretanto, ainda existem aqueles que sabem apreciar-me e, para estes, sou doce e gentil.

Quem sou eu? Sou o vento que penetra em sua casa trazendo frescor para os dias quentes. Sou aquela tempestade destrutiva e cheia de amargura, que busca vingança pelas injúrias que me são cometidas. Sou aquela brisa matreira que passa sobre a saia da bela moça.

Kirjailija
Enviado por Kirjailija em 12/10/2014
Código do texto: T4996805
Classificação de conteúdo: seguro