Tudo depende de "timing"

Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo. Ontem, acordei com essa frase de José Saramago na cabeça. Uma boa foto tem mais a ver com esse axioma do que com equipamentos e filtros.

Eu aprendi a fotografar em uma máquina, Olympus OM-1, emprestada. Para revelar as fotos dessa máquina analógica precisávamos de papel, revelador, quarto escuro, metais de prata, filmes e outras coisas mais. Assim como agora, existiam lentes com maior ou menor distância focal, inúmeros filtros e filmes que produziam imagens incríveis para aqueles que tinham dinheiro e tempo para investir na profissão.

No meu caso, apesar de saber da existência dessas outras lentes e do resultado que conseguiria com elas, precisei me adaptar e fazer o melhor uso da minha 50 mm. A lente conhecida como normal é chamada assim porque oferece a imagem vista pelo olho humano, nem mais, nem menos, sem o subterfúgio das teleobjetivas que aproximam o objeto sem expor o fotógrafo, nem a capacidade de uma lente grande angular que amplia de forma panorâmica a imagem para que caiba inteirinha em uma única foto. Filtros e tripés, para uma pessoa ansiosa como eu sempre foram um problema à parte. Logo percebi que eles eram coisas para quem tinha tempo, para fotos produzidas em estúdios com luz e poses controladas, fotos de paisagens, modelos ou produtos.

Passado os anos fiz a transição natural do analógico para o digital e pude investir em lentes, novos equipamentos, ganhei autonomia e aumentei minhas possibilidades. Mas, o tempo ou a falta dele sempre foram determinantes. Para quem gosta de fotografar gente e capturar um momento único, tripés, lentes e filtros (artifícios) apenas atrapalham. Porque, no final, tudo depende de “timing”. É preciso ser rápido para não perder o momento do beijo, mas tranquilo o suficiente para não tremer ao disparar o obturador. Depois de muitas tentativas e erros, aprendi que a pressa estraga a foto. Mesmo que você consiga, a imagem sairá borrada, tremida, sem definição. E, sem ela, sem essa pressa ou urgência, você não consegue fotografar o instante perfeito, perde o olhar amoroso da criança para o seu pai, deixa passar a moça de chapéu vermelho que andava contra um muro cinza ou o rapaz que se esforçava ao máximo correndo no contra luz do final da tarde. Então, o segredo de uma boa foto não se resume ao equipamento que você usa, o segredo é estar pronto para não perder o momento. O segredo, como disse Saramago, é não ter pressa, mas também não perder tempo.