Período Eleitoral Pra Quem É Apolítica

Cresci vendo a situação política do meu país através da ótica do meu pai, que era um militar idealista. Passei pelos primeiros anos da ditadura achando que os militares estavam no poder pra garantir a "Ordem e Progresso", impedindo que subversivos e comunistas promovessem a desordem e o caos na sociedade brasileira. Vivi minha infância e parte da adolescência como "Alice no País das Maravilhas", morando numa vila militar, cercada por quartéis ... e militares, é claro!

O choque de realidade veio à medida que avançava nos estudos, e ouvia dos professores uma outra versão histórica pra tudo o que aconteceu. Era como se eu tivesse vivido em outro país, numa outra época e num outro contexto. Por respeito ao nosso pai, eu e meus irmãos jamais comentamos política em casa. Talvez por isso, tenha me tornado apolítica. Tenho alguns livros que falam dos anos de chumbo, que guardo muito bem guardados, com uma certa culpa até. Parece que estou traindo a memória do meu querido e saudoso pai, que um dia trocou muitas das jóias que havia dado á nossa mãe por umas alianças de cobre, onde se lia a inscrição: "Dei Ouro Para o Bem do Brasil".

Durante os mais de sessenta anos em que meus pais foram casados, assisti meu pai anotar num pedaço de papel os nomes e números dos candidatos nos quais minha mãe deveria votar. Sempre me perguntei se ela realmente obedecia, ou se, num ato de rebeldia,não rasgaria a sua "cola" quando estivesse sozinha na cabine e anularia seu voto, num protesto silencioso e secreto. Mas, isso eu nunca pude saber!

Sou professora, e ninguém desconhece o fato de que o professor é um formador de opinião. Não eu, mas a grande maioria dos colegas com quem trabalho - e isso me faz ter a oportunidade de ouvir pessoas politizadas e muito bem informadas conversar sobre o cenário político do nosso país, e sobre os candidatos a futuros cargos políticos. Não me envergonho de dizer que é assim que eu escolho meus candidatos - como "maria-vai-com-as-outras". A outra opção seria anular meu voto, o que a meu ver seria muito pior. Outra coisa que faço é orar a Deus pelo futuro desse país que tanto amo, pedindo que oriente a escolha que será feita por esse povo tão sofrido, que não merecia assistir tudo o que tem acontecido, desde sempre, no cenário político brasileiro.

Que venha o segundo turno - que saibamos votar, se não no melhor candidato, no menos pior!

Sonia Villarinho
Enviado por Sonia Villarinho em 11/10/2014
Reeditado em 12/10/2014
Código do texto: T4995665
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