A CASA DA RUA RAIMUNDO FREIXEIRAS

Passei no sábado passado na Rua Raimundo Freixeiras, em Casa Amarela, no Recife, para mostrar a uma amiga, uma das casas onde moramos, a de número 151 daquela rua.

Qual não foi a minha surpresa, a casa está sendo derrubada, para que em seu lugar ser construído um edifício. Voltei depois do almoço, entrei na casa já com o teto derrubado e tirei algumas fotos. A volta àquela casa depois de 50 anos - eu disse 50 – me trouxe muitas recordações.

Ali vimos mamãe ir para a maternidade buscar meu irmão Claudio. Na garagem daquela casa quase surgiu um circo, pois Juninho de Vicente enchia a boca de querosene e soprava numa chama e saia uma labareda. Na época estava passando no cinema o filme Trapézio – rodado em 1956 com Gina Lollobrigida, Tony Curtis e Burt Lancaster, o que nos inspirava a imitar um circo. Joélia, Alfran, eu e Vicente Junior eram os pretensos artistas.

Naquele quintal criamos preás, pombos, um periquito, patos, cachorro, galinha etc. Os pombos e os preás se reproduziam demais. Começamos com um casal e em pouco tempo a população era imensa.

No terraço de trás jogávamos bola, jogo de tampa de refrigerante e nos divertíamos a valer.

No banheiro, tinha uma banheira, que era uma das nossas diversões na casa.

No jardim, eu jogava muita bola com Eduardo. Quando eu ganhava, ele saia chorando pra reclamar a mamãe.

Uma vez teve um acidente em frente à nossa casa. Um carro atropelou uma mulher. Segundo dizem foi tentativa de suicídio.

Em frente ficava uma vacaria - não sei como cabia. Íamos muito lá. Uma cena que não esqueci até hoje foi a castração de um porquinho, sem anestesia. Depois colocaram cinza no local da cirurgia. O animal saiu em disparada... acho que ele corre até hoje. Já deve ser um senhor porcão com 50 anos de idade.

Outra lembrança daquela casa foi que, como criávamos pintos, um dia um frango que eu tinha - xadrez - pulou para o terreno baldio que ficava ao lado. Prontamente fui resgatá-lo. Qual não foi minha surpresa, pisei numa lata aberta e tive um grande corte no pé esquerdo. Mamãe veio socorrer e colocou não sei se foi álcool ou vinagre... e só me lembro de uma bacia cheia desse liquido com sangue. Mamãe não me levou para o Pronto Socorro, pois tinha receio do tratamento que davam lá. Alba de Pio apareceu na hora para ajudar.

Naquela casa ouvimos pelo rádio a copa de 1958 - Brasil, campeão do mundo na Suécia.

Meu irmão mais velho lembrou que às vezes íamos para o Ginásio Bandeirantes (já foi derrubado e em seu lugar existe um outro colégio) de carona na carroça de seu Zé, o leiteiro. Hoje vejo que seu Zé tinha grande sabedoria popular. Ele dizia sempre que a gente crescia, enquanto dormia. Não sei quem contou a ele, mas hoje isso é provado cientificamente.

Lembro que o piso da casa é o mesmo, bem como os azulejos das paredes do terraço. Segundo cálculos de alguns, moramos naquela casa durante 4 anos.

Papai vinha almoçar em casa todo santo dia - fato comum na época - e depois voltava para a loja na Rua da Palma, onde tinha empresa que vendia peças para automóveis.

Não sei se fomos os primeiros moradores da casa, só sei que ela era nova. Mas com certeza, ela marcou profundamente as nossas vidas como crianças, pois aquelas imagens ficaram passando em minha mente, enquanto escrevia esse pequeno texto.

Recife, 06/02/08

Carlos Alfredo Melo
Enviado por Carlos Alfredo Melo em 11/10/2014
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