Perdidão
- Aí, de novo. Você sempre fica com esses olhos de perdidos depois de um tempo quando tá comigo.
Pisquei.
- Como é, Sierra?
Ela sorveu o seu sorvete de casquinha. Olhava-a de cima pra baixo, visto a diferença de tamanho. Usava uma estampada saia de bolinhas. Ela sentou no balanço e começou a ir e vir, regressando a infância.
- É assim, a gente tá conversando, aí de repente você fica olhando pra frente, ou pra cima, ou sei lá pra onde e parece que fica em um mundo só seu.
Eu olhava-a sem cessar nesse meio tempo. Ela olhou pra mim, arregalou-se, suspirou e deu uma pequena tremida.
- Sabe, as vezes acho que te perco. Não por muito tempo, só nessas travadas tuas. Nessas horas que você para e fica encarando o mundo, acho que você fica olhando o mundo assim meio sem saber, sabe? Não sabe né? Parece que você entra em você, pra se olhar mais de perto e tentar achar o que você perdeu. Por isso que seus olhos mostram tanta perdição. Mas sabe, não ligo disso, mergulho neles nessas vezes que você para pra me olhar e Deus sabe o que mais passa nessa sua cabeça loira louca. Mas um dia eu até acho o que você fica olhando assim, perdidão.
Ela parou de balançar, passou a mão no sorvete e melou meu nariz.
- Ai quem sabe você não olha assim pra mim, hein?
Sorri.