O Complexo cinza
O sucesso que Erika Leonard James fez com sua trilogia "Cinquenta tons de cinza","Cinquenta tons mais escuros" e "Cinquenta tons da liberdade" bem que me despertou a atenção e até cheguei a ler uma resenha sobre o primeiro livro. Não me interessei mais, mas quis fazer uma brincadeira: Algo tipo críticas moderadas e despropositadas. Mas falar o quê, do quê? Nem o livro tinha lido. Ai foi que resolvi ter com pessoas que o tivessem lido. Mas ainda tinha um problema: não teria graça nenhuma comentar uma obra que fazia sucesso mundial. Então resolvi fazê-lo em forma de charadas, pois de quebra brincaria com os leitores do RL.
Foi assim que escrevi "Desculpe-me Erika Leonard", uma aldrávia que dizia: "Muitos tons nessa cor tão sombria". Imaginei que a pessoa que tivesse lido o livro ao juntar título ao texto perceberia algo e mataria a charada... Publicado aqui, em 08/02/2014. Ninguém registrou algum comentário que indicasse ter percebido. Ai aconteceu uma coisa muito interessante. Visitou-me Erika L J e até questionou sobre a coincidência no seu nome, mas como a escritora é conhecida apenas como E. L. Jones, mesmo ela, a recantista, não percebeu também.
Diante da situação resolvi bricar mais um pouco e então publiquei "Os tons de Érika", outra aldravia que dava mais dicas sobre a verdadeira orientação dos textos: "Nesta aldravia apenas os mais claros". Enquanto a primeira interagia diretamente com o primeiro livro, esta fazia frente exatamente com o segundo, "Cinquenta tons mais claros". Era uma dica forte para quem estivesse acompanhado as publicações de E.L.Jones. Mais uma vez ninguém percebeu, ou pelo menos, se manifestou. E novamente nossa Érika L J, agora movida pela curiosidade, creio, comentou, manifestando-se "Mas quem é essa Érika??? rs... ficando 'encafifada'". Daí pensei porque não uma trilogia, também?
Nova aldravia. Achei melhor não mudar o estilo, para dar um aspecto de maior coerência. Uma trilogia de aldravias. Assim, em17/02/2014 publiquei "Ainda sobre E.L.J.": "Liberdade é absoluta, não tem tom". Esta a mais contundente. As abreviações dos dois primeiros nomes no título dava uma maior proximidade com o nome da autora. O conteúdo dava a dica do título do terceiro livro: "Cinquenta tons de liberdade". Agora pronto! Seria descoberto e acabaria a brincadeira. Além do mais a mensagem da aldravia era verdadeira e corresponde ao que sinto sobre liberdade... Mas nada, ninguém desconfiou, apenas nossa recantista Érika mais "encafifada", comentou: "Gente, estou passada!!!... ... me sinto copiada!". É claro que contei pra ela do que se tratava.
Certa vez, meu amigo recantista, Ferreira de Carvalho, agora inativo no RL, pessoalmente, comentando sobre um comentário meu em um poema seu, brincou: "... o comentário está muito melhor que o poema...". Bondade dele, claro! Mas foi assim que me senti analisando essa minha trilogia. Uma brincadeira, que embora não fosse de mal gosto, tem um tom irônico e testa, de certa forma, a "afinação" dos leitores com as mídias do momento. Essa brincadeira recebeu comentários, estes sim, carregados de sabedoria e sensibilidade. Mostrou-me também que, assim como a música atual, a literatura tem sua carga de futilidade e nem sempre está afinada com o bom gosto. A própria E. L. Jones, em entrevista concedida a revista Veja (http://veja.abril.com.br/), coluna do Ricardo Setti,em 20/12/2012, quando questionada pelo sucesso da trilogia, uma vez que existe muita ficção sobre sexo, respondeu: "A maior parte dessa ficção é produzida não sob impulso criativo, mas como um plano de marketing: vamos atender às demandas desse segmento demográfico com um produto talhado para ele". Embora a complementação da resposta diga que não era essa a intenção, que mesmo que quisesse não seria capaz de produzir algo com foco no marketing, que sua obra foi se encorpando naturalmente, e que ainda, acima de tudo é autêntica e genuína... Não deixa de ser um produto de momento. Eu mesmo não fazia a menor ideia de quem fosse E L Jones, muito menos Erika Leonard Jones, até ir pesquisar no Google, ao escrever a primeira aldravia. A ideia em si só me acometeu apos ouvir comentários de algumas pessoas sobre o primeiro livro. Percebi que toda esta estória havia me tirado da zona de conforto moral e ético.
Foi então que me redimi, fazendo a crítica mais severa a obra. severa no sentido de dizer que minha preferência ainda era a poesia mais pura. Compus então "Para finalizar, Ms. James", que dizia "Prefiro as sete cores do arco-íris". A experiencia foi boa. Constatei que a verdadeira poesia não tem charadas, artifícios, meias palavras. Embora, às vezes, alguns desses itens possam entremear-se nela, não são intencionais, são amálgamas naturais, contextuais, que fluem de suas inúmeras vertentes. E mais que isso, servem mais para fertilizar a mente do leitor que para embaraçá-la ou tolhi-la. O poeta nunca explora o ignorância dos outros. Se de alguma forma interagir com ela é para diminuí-la. O poeta é um enriquecedor de almas. Não apenas os poetas verdadeiros, mas também aqueles que, assim como eu, amadoristicamente, escrevem singelos textos, que mais demonstram carinho e necessidade da poesia que o entrosamento com ela.