AONDE QUER QUE EU ESTEJA...

AONDE QUER QUE EU ESTEJA...

Em 2005, quando o jovem filho do político "mais comentado" do Pará assumiu a Prefeitura de nssa cidade pela primeira vez, cheguei a pensar que os tempos mudariam e que, finalmente, a Cultura teria voz e vez na "terra dos bailes e bingos". Um carro-som passou por várias ruas -- nos primeiros dias do seu secretário "de Curtura" -- convidando artistas e escritores, comunitários e "agitadores" para uma reunião no Colégio Aspecto da rua WE 32, se não me falha a memória.

Num sábado à tarde o amplo salão encheu-se de esperanças, transbordou de confiança nas promessas de um novo ano para as atividades culturais... por pouco tempo, aliás. Semanas depois houve um breve show com um belo Grupo de danças típicas -- cobravam CEM REAIS por apresentação, 8 músicos e dançarinos. além do cantor -- e alguns poucos artesãos de pintura e tapeçaria... e nada mais. Meu sonho de ver meu parceiro de dupla "sertaneja" registrando parte de seu extenso repertório de mais de 200 composições, a partir do apoio da PMA -- esboroou-se, ruiu por terra. O violeiro Abiezér Silva faleceria em dezembro de 2005 e a SECULT ananin não realizaria sequer o Festival de Música (evangélica, no caso) prometido nos folhetos da campanha.

Reeleito em 2009, o marasmo intelectual desse "cemitério da Cultura" que era (e é ainda, a meu ver) Ananindeua continuou.Em 2010 surge uma luz no fim do "túnel"... o prefeito sancionou finalmente a LIC - Lei de Incentivo à Cultura, criada salvo engano em 1993, quase 20 ANOS antes. Em 2011 aprovou-se 15 ou 20 projetos, dos mais de 40 apresentados. Infelizmente, eu não soube de 1 só que tenha sido realizado, o Comércio local apóia apenas baile, bingo e bola -- as 3 "coisas" andam juntas -- além do famigerado Carnaval, é claro.

Do secretário petista Luís Cunha soube apenas que foi cuidar de carros no DEMUTRAN e, adiante, suponho que "da Saúde" do município, em algum outro cargo qualquer. Em 2012 o festejado e admirado músico Pedrinho Cavallero planejou um Festival da Canção, para o qual convidou a Prefeitura, como patrocinadora oficial. Levou uma "rasteira"... ela respondeu que "se virasse", a PMA iria fazer o dela, por isso não ía "pôr azeitona na empada alheia". O prefeito não fez festival algum nos seus 8 anos de mandato, exceto raros shows, produzidos a partir de projetos criados pelo Jornal do avô (e do pai).

Com praças ridículas (exceto a do bairro Cidade Nova 8), que sequer merecem esse nome, o Município praticamente não tem atividade realmente cultural de espécie nenhuma... a última exposição de artes plásticas eu presenciei por volta de 2003, particular e dentro do Colégio Madre Celeste/ESMAC. Pela PMA -- ou vi Leis de Incentivo -- jamais soube de coisa alguma, de 1 CD ou livro lançados, de exposição pintura ou fotografia e até os 6 MILHÕES DE REAIS que a "Ministra-rojão" Ana de Hollanda veio trazer em 2011 -- para a construção de um cineteatro -- "desapareceram" no ar. O 3º município do Pará em rendas tem um movimento cultural dos mais apagados e sem o período das quadrilhas juninas seria definitivamente um "cemitério cultural".

É tempo de Círio... em 1990 nossa dupla "Cultura Nossa" inscreveu-se num concurso em Belém em homenagem à Virgem de Nazaré, organizado pela Basílica. Preparamos 3 músicas, todas classificadas... no primeiro dia das Eliminatórias, apresentamos a melhor delas, não lembro mais o título:

"Aonde quer que eu esteja / trago comigo uma luz / que recebi na Igreja / e é ela que me conduz / Pelos caminhos do Mundo / ando contente e com fé, / pois recebi tuas bençãos, / oh, Virgem de Nazaré!" Com versos belíssimos, Silva encerrava cantando... "os sinos já anunciam / o nicho que te conduz. / Vou receber suas bençãos, / oh, Virgem, Mãe de Jesus!"

Gaita e vilão bem casados, Silva com a letra colada no dorso do instrumento, nos saímos muito bem, apesar do nervosismo, gente nos cumprimentando na platéia, parabenizando a obra. Na hora de anunciar o resultado, nem sombra de nossa canção... falou mais alto o "patriotismo" tosco e só classificaram os grupos ligados ao movimento cristão. Nem voltamos no dia seguinte, para defender as 2 outras composições, uma de minha autoria, homenagem singela à Virgem de Nazaré, que reproduzo agora, 25 ANOS depois!

UMA CANÇÃO PARA MARIA

I

Pela longa estrada da Vida

muitas vezes me desesperei.

Quando tudo era penosa subida

no caminho sozinho eu fiquei.

I I

Procurei então mão amiga

que amenizasse meu calvário.

Senti-me como ovelha perdida

a cumprir meu fado, solitário.

I I I (BIS)

Eis, porém, que surge tua luz

para iluminar o meu caminho,

diminuir o peso da minha cruz

e me dizer que não estou sozinho.

I V (refrão/BIS)

Senhora,

beleza que converte e seduz.

Senhora,

bondade que comove e reluz.

Senhora,

imagem que esperança nos traduz.

Senhora,

és Maria, nossa Mãe e de Jesus.

"NATO" AZEVEDO

(OBS.: feita em 04/09/91 para o I Festival

da Canção Mariana, realizado em Belém.)

Enfim, fazer Cultura no Brasil continua sendo um martírio, um suplício, com Prefeito e Governadores que só pensam em... Política! Desde aquela época defendo a idéia de que Prefeituras deveriam ter um modesto Estúdio onde seriam registradas as obras de músicos locais, arquivo FILMADO e gravado com suas biografias, além de COLETÂNEAS com poesias e crônicas, contos, fotografias, etc, dos artistas de cada cidade.

De minha parte, poderia eu ter registrado essa melodia sem precisar MENDIGAR a ajuda de amigos com celulares modernos. Mas, "em terra de cego, quem vê que se cale, para não passar por louco ou mentiroso", diz a fábula. E assim, vou vivendo... esperando por um milagre da Virgem de Nazaré. AMÉM !

"NATO" AZEVEDO (escritor e compositor) 10/outubro 2014