A Revolta das árvores
Era setembro e como de costume todos os Ipês amarelos começavam a mostrar suas lindas flores amarelas. Essa sincronia era realmente um fato espetacular. Todos sem exceção abriam suas flores para o mundo nessa mesma época. Não importava o tamanho nem a força de cada um. Muito menos as condições do solo. Todos cumpriam a ordem misteriosa que vinha do grande arquiteto do universo. Apesar da devastação que a sociedade humana impunha a todos os tipos de árvores elas continuavam a cumprir esse ritual sagrado. Mas estavam cansados da brutalidade humana. Não só os Ipês mas todas as árvores estavam cansadas desse massacre que vinha ocorrendo a milhares de anos.
No início dos tempos quando os seres humanos ainda necessitavam realmente das árvores para sobreviverem elas não se importavam em fazer esse sacrifício demonstrando o amor que é peculiar ao reino vegetal. Muitas viravam camas e cooperavam no descanso dos homens; outras viravam mesas e até gostavam dessa nobre atividade e se sentiam como se fossem da família; ser porta ou janela não era muito bom,pois, tinham que aguentar chuva e sol, frio e as vezes até neve.
Nessa época as árvores gozavam do respeito dos seres humanos adultos e da amizade da criançada. Estas gostavam de brincar com as árvores e havia uma infinidade de brincadeiras. A Gangorra era a preferida. Gangorrear era parecido com voar. Subir em uma árvore era muito divertido também, ainda mais quando tinham frutos para serem colhidos. Mas tudo isso acabou aqui na cidade grande, que virou “selva de pedra”. Sobrou uma ou outra em alguns quintais onde ainda não brotaram os prédios.
Mas foi então que uma coisa assombrosa aconteceu: as árvores cansadas de serem massacradas sem nenhuma piedade pelos seres humanos organizaram uma revolta, a revolta mais estranha que o mundo já viu. Todas as árvores, do mundo todo, que já haviam sido mortas e usadas para fabricar alguma coisa voltaram a vida. Isso mesmo: ressuscitaram. Mesmo que suas mortes tenham ocorrido a centenas de anos.
Então começaram a brotar de todos os móveis feitos de madeira galhos de todos os lados, mas não como brotam os galhos comuns; esses brotavam numa velocidade espantosa e em cinco minutos atingiam dois ou três metros. Foi uma confusão total. As pessoas caiam das camas , lançadas pelos galhos; as mesas lançavam para longe tudo que estavam em cima delas; os armários vomitavam tudo para fora; as pessoas pensaram que o mundo estava acabando. Somente as camas das crianças e os armários que guardavam suas roupas e brinquedos não se revoltaram. As árvores sabiam que elas não tinham nada a ver com aquela matança toda.
As árvores que estavam vivas, em todas as cidades do mundo, simplesmente começaram a arrancar suas raízes da terra e se punham a andar. Todas se dirigiam para a mata mais próxima e não mais iriam ofertar suas sombras ou frutos para os humanos. Imaginem a confusão. As pessoas simplesmente não acreditavam no que estavam vendo. Só um menininho de aproximadamente uns cinco anos que chupava um pirulito, sentado no portão de sua casa, não estava assustado e disse para si mesmo: bem feito!