Que venha a segunda-feira
Para muitas pessoas o advento da noite de domingo é tedioso, deprimente.
O anoitecer do domingo remete o pensamento dessa gente a mais uma angustiante semana de trabalho, labuta e porque não dizer, de sofrimentos. Sim, sofrimentos. Para tantos, trabalhar é um martírio e é por isso que ao se referirem ao trabalho dizem: “vou ralar”. É como se de fato o labor provocasse nessas pessoas o esfolamento, a corrosão, a exaustão, o desgaste do corpo e da mente.
Aqueles que assim pensam não se dispuseram à reflexão de que o trabalho é uma das atividades mais dignas, justas, nobres e edificantes que nos foi ofertada por Deus, para que pudéssemos ter uma ocupação digna, honrosa, de engrandecimento e que beneficia, não só a nós, mas também àqueles com os quais convivemos e à coletividade.
E se acaso nos fossem dadas folgas também às segundas-feiras, a aversão não passaria a ser pelas terças-feiras?
O próprio Deus criou o mundo e tudo quanto nele há e no sétimo dia descansou.
Quando se diz que Deus “descansou”, deve-se entender que ele parou para contemplar o que havia criado, ou seja: tendo Deus concluído sua obra, viu que estava tudo conforme sua proposta e só então pode contemplá-la.
Analogamente só poderemos descansar após termos cansado, trabalhado, produzido algo palpável. Do contrário, como nos seria possível ter abrigo, alimentos, lazer, entretenimento, reunir amigos e familiares, confraternizar, sem termos ganhos e suprimentos que nos permitam a esse desfrute? Apropriaríamo-nos do que não nos pertence? Agiríamos como parasitas?
A natureza é bela, generosa, farta, com uma enorme diversidade de recursos e opções para garantir a nossa sobrevivência, mas para por aí. Ela nos provê de tudo o que necessitamos, inclusive de aptidão física e mental, mas é preciso o mínimo de esforço para nos apropriar daquilo que nos é disponibilizado com tamanha abundância. Temos pelo menos que ir até a fonte, para que tenhamos o direito e o privilégio da coleta seletiva e de nos fartarmos.
Ao nos limitarmos apenas a colher o que encontramos aos nossos pés, estaremos condenados a viver como seres rastejantes, que se servem unicamente de frutos caídos, já passados, podres, restos, indigestos, desprezados. Viveríamos de migalhas e não teríamos a opção de escolha.
Todos os dias devem ser aguardados e vividos com júbilo, quer sejam dias de ofício ou dias de descanso, pois cada um tem imprescindível importância em nossas vidas.
Dessa forma, a segunda-feira deve ser vista como o primeiro de vários dias em que teremos a oportunidade de plantar, cultivar e proteger, para que possamos usufruir no dia a dia e ainda ter reservas para os dias de descanso.
Os dias ociosos não podem ser tantos, a ponto de não termos conseguido cultivar, produzir o suficiente para lastreá-los.
Que venha então a segunda-feira, pois estarei sempre com as energias renovadas para iniciar mais um magnífico ciclo produtivo e, ao final, poder contemplá-lo e dele desfrutar em comunhão.