No teatro e na vida
Nesta Quadragésima Campanha do Teatro e da Dança, realizada em Belo Horizonte (Jan/Fev/2014), tive a oportunidade de assistir a algumas peças e, se possível, ainda assistirei a outras mais.
Dentre as peças que assisti estava a encenação intitulada Comédia de Buteco, cujo elenco é composto por uma Drag queen, um mágico e dois comediantes, sendo um deles o Geraldo Magela – o ceguinho.
Como todos sabem o ceguinho se utiliza dessa sua condição – a de deficiente visual, para inserir episódios engraçados em suas apresentações.
Dessa vez não foi diferente, a certa altura de sua participação ele lançou a seguinte pergunta à plateia: “Quem já assistiu a minha peça: Só quero ver na copa?”
Várias pessoas, como que orquestradas, levantaram a mão. Então, já sabendo que isso teria ocorrido, ele disse: “Prá quê vocês levantaram a mão, eu não enxergo?!
A plateia caiu na gargalhada e aqueles que responderam com o gesto também riram, embora tenham ficado bastante sem graça.
Essa anedota me fez recordar uma estória verídica ocorrida com o meu sobrinho Bolivar, narrada a mim pelo seu próprio pai.
Bolivar ocupava, à época, o posto de Sargento da Polícia Militar de Minas Gerais.
Iam filho e pai em um mesmo veículo, estando a direção sob a responsabilidade do mais moço, que não se encontrava paramentado em seu fardamento militar, ou seja, estava à paisana.
O condutor circulava pela Alameda Ezequiel Dias ostentando em seu punho esquerdo, apoiado sobre a janela do carro, um belo relógio analógico-digital.
Nas proximidades do Hemominas, enquanto aguardavam pela abertura do semáforo, passou por eles um jovem que não tinha o antebraço esquerdo.
Ao ver rapaz tão novo com aquela deficiência apiedou-se dele, compartilhando o sentimento com o seu pai.
Oportunista o jovem deu meia volta e arrancou o relógio do pulso do Bolivar, que ficou enfurecido com a ousadia do coto.
Não aceitou ter sido roubado, exatamente por aquele de quem a pouco teve piedade.
Deu a volta, estacionou o carro e surpreendeu o desafortunado celerado ainda dentro do parque.
Arma em punho segurou o assaltante pelo braço e exigiu o relógio de volta.
A exigência restou frustrada, pois, tão logo percebera que não haveria como fugir, o delinquente atirou o produto do roubo sobre a via, o qual foi esmagado por alguns veículos que por ali passavam.
Os guardas-parque chegaram em socorro e logo uma voz ofegante ordenou: “algema ele, algema ele”.
Ao tentar cumprir a determinação foi que o guarda percebeu que o celerípede meliante não tinha um dos antebraços e perguntou: “como é que eu vou algemá-lo, ele só tem um braço?”.
O chefe da guarnição determinou então que uma das argolas da algema fosse presa ao contraventor e a outra, até que a viatura chegasse para conduzir o infrator à delegacia, ao próprio guarda.