Amor de quinta
Certos amores duram uma eternidade. Outros, um dia.
Um dia simples, sem o clima alegre de sexta-feira, sem a felicidade de sábado e sem o tédio de segunda. Uma quinta-feira qualquer, o cruzamento entre duas avenidas, milhares de pessoas passando apressadas e dois olhares que se encontram. Stop no tempo, play no amor. Eles deixam o trabalho de lado e vão tomar um cappuccino na cafeteria mais próxima. Conversam, conversam e ele segura a mão dela como se a conhecesse desde 2500 antes de Cristo. Ambos se espantam com tantas coisas em comum: os mesmos livros, as mesmas músicas, os mesmos sonhos e as mesmas desilusões amorosas. Conversam mais, se espantam mais, almoçam uma besteira qualquer na rua e depois se despedem com um beijo rápido, envergonhado, aquele beijo com sabor "espera aí, eu acabei de te conhecer!". Ele a chama quando ela já está indo embora e pede seu telefone. Ela sorri, murmura os números e ele anota tudo na mão. Outro beijo de despedida, mas esse tem um gosto melhor.
Ambos vão para casa e, no dia seguinte, se encontram de novo. Desta vez foi tudo combinado. Mais conversas, mais coisas em comum e risadas contagiantes. Próximo destino: apartamento dele. É um caos, mas é confortável. Em menos de cinco minutos a conversa inocente na sala se transforma em algo não tão inocente no quarto; roupas no chão, corpos na cama, suor nos corpos. O perfume adocicado dela mescla-se ao cheiro amadeirado dele. E assim passam-se semanas: cappuccino, conversas, trabalho, risadas, mãos dadas e mensagens de texto 24 horas por dia.
E então tudo volta ao normal. Play no tempo, stop no amor. As pessoas continuam apressadas e esbarram no homem e na mulher que estão parados, um olhando para o outro como se estivessem conectados. Eles sabem que devem arriscar, mas não arriscam. Sabem que poderia ser um amor de anos, mas não tentam. Preferem que seja apenas mais um amor de quinta, destes que duram sessenta segundos, mas que a gente leva para a vida toda.