Crônica de Cingapura (2002)
Eis maio: amai-o sem desmaios. É o fecundo mês das flores, das noivas, dos amores, das mães, de Fátima e de Maria, comemoração a riviria. Mas justamente em meio ao frescor primaveril na Europate, Paris está em chamas. Paris e todo o país, françamen.
Jean-Marie Le Pen, espécie de Enéias gaulês passou para o segundo turno das presidenciais, devendo disputar com Chirac, o direito de, por um setenato, e já de imediato, ter seu, o Palácio do Eliseu. Duelo de
tantãs? Titãs, corrijo-me e me aflijo. A direita assumida contra a ultradireita, loura varrida. O amplo e colorido arco das esquerdas titubeou: entrou e saiu gauche nessa história. E chocado está um bom bocado do eleitorado que, entre seguro ou indiferente à uma esperada vitória de Jospin, o dauphin, achou mais prático curtir feriado em dia de eleição. Ou se relaxou com a abstenção. Vamos torcer para que essa esquerda se endireite.
E a vizinhança da França tampouco na paz descansa: tá o maior frisson a estória dos cabelos do Chanceler alemão Gerhard Schroeder: seu cabeleireiro jura de tesouras juntas que seu augusto cliente os pinta para disfarçar os teimosos fios grisalhos. Já seu porta-voz, atroz, contesta e protesta. E a imprensa, sem ofensa, faz a festa: se pinta os cabelos, não poderia também estar maquiando estatísticas? Por quê não convoca uma coletiva e, solenemente, endurece o jogo: pinto, não
minto. E nem finto! Se não gostou, sinto! Não pintou o grande Picasso? Saudações e abraço.
E vamos a Roma. A cidade eterna abrigou recentemente todo o cardinalato estadunidense convocado pelo Sumo Pontífice para discutir a grave questão da pedofilia que estaria grassando o clero norte-americano. Sua Santidade, que não tem papas na língua e vem da Europa oriental - onde se dizia que os comunistas literalmente papavam criancinhas - foi peremptório nas admoestações, de fazer enrubescer o rosto compenetrado de muito purpurado.
E se viu logo o Santo Padre diante de um terrível dilema: como convencer os seus pastores evitar crianças, quando a Igreja abraça o crescei e multiplicai e entre as mais belas passagens da pregação de
Cristo está o "deixai vir a mim os pequeninos"? Uma saída possível, mas pouco crível, poderia ser um relaxamento na lei do celibato e a conseqüente formação de núcleos familiares no Sagrado Magistério. Ou a salutar ordenação de mulheres, que além de filhas de Maria, são-no também de Deus, e ao contrário de filisteus tratam crianças como filhos seus. Ou, ainda mais simples, a troca dos coroinhas "de menores" por "vertically challenged adults". Ah não, não traduzo, sai tudo confuso.
Mas, pensando bem, seria bom se o nosso Serra, cristão velho de guerra, e um dos cardeais do PSDB, tivesse acompanhado a audiência dos Príncipes da Igreja com o Vigário de Cristo, pois ninguém me tira da cabeça que em futuro muito próximo poderá ser acusado por um inflamado Garotinho. Os dois andam empatados, ou em patadas nas pesquisas.
Ainda na Europa, mas nos porões do velho continente: foi descoberta recentemente uma hipermegacolônia de formigas que beira seis mil quilômetros de extensão, orlando, não o Zé, mas o Mediterrâneo. Donas da Cote d`Azur! Esses insetos que teriam provindo da Argentina desde os anos 20, passaram despercebidos das autoridades da imigração e, diferentemente das demais espécies de formigas, em que colônias individuais não se mesclam, desenvolveram o espírito comunitário e solidário. Uma formiguinha dessas tirada de uma colônia em Portugal é aceita por suas semelhantes na Espanha, França ou Itália. Prova de que são argentinas?
Saltemos o Oriente Médio,amargo, sem remédio, onde as próprias formigas associativas têm hesitado pisar enquanto a situação lá não se acalmar - e pelo jeito vai demorar. Vamos à Ásia Central conhecer, enquanto é tempo, o mar de Aral. Já chegou a ser maior do que Alagoas e Sergipe reunidos, mas desde que Stalin lançou seus mirabolantes planos para irrigar as planícies vizinhas, começou a definhar sem mais parar. Dizem que em 2010 estará extinto. Mas não morto, pois Mar Morto só tem um, e esse se pode e se deve ver para crer. Sobre suas águas o Nazareno andou, deu o maior show, mas não o ressuscitou. E delas Pilatos as mãos lavou.
Mas das formigas passemos aos sapos: suas populações - e copulações - segundo cientistas, vêm caindo assustadoramente, principalmente em regiões de agricultura intensiva, onde o uso de pesticidas e herbicidas é rotina assassina. E não é só. Os sapos machos estariam perdendo os seus órgãos reprodutivos e virando pererecas, daquelas bem sapecas.
Por outro lado, ou do mesmo, pesquisadores japoneses vêm desenvolvendo uma teoria no sentido de que pais fumantes tendem a gerar mais filhas do que filhos, numa indicação de que os genomas masculinos - menos resistentes - estariam virando fumaça. Vamos ver se ainda dá na Veja. Ou no Lar Católico.
E eis que pinta a Copa. Nossa próxima edição já há de circular no olho do furacão CoréiaJapão. Sem Romário, vamos com outros Rs. Só no ataque são três: Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo e Rivaldo. Pouco erre pra tanto erro? Fé no fenômeno?
E tivemos a grata satisfação de ver empresas brasileiras na Food and Hotel Asia, de 09 a 12 de abril. As associações de exportadores de carnes suínas e de aves,a Seara,a Perdigão, a cachaça Ipióca - que é o Royal Salute da caninha - e os produtos orgânicos com o Luiz Ranoia, tudo muito bom, uma jóia. E vão aqui nossos agradecimentos ao Nelson Portillo pela intensa mobilização para assegurar nossa presença no Latin Festival. Apesar de dispormos de pouco material e de um tempo muito curto, muito se curtiu e mais se divertiu. Em 2003 tem mais. Quem se habilita?