A PROVA
Diziam “os bocas boas” que quando acontece a manifestação do além é porque não se consegue segurar a pressão por notas na universidade. Como de costume no dia de prova da disciplina “ferradora”, a professora separava as cadeiras, sempre intercalando os estudantes pra evitar colas ou olhares alheios. Os discentes precisam entender que professores também conhecem a linguagem dos sinais e a corporal, tendo em vista que os comportamentos suspeitos e previsíveis; “enrolar sanfoninha” ou mesmo o “sentar na colinha” são passiveis de serem descobertos. Ainda existe o mais manjado de todos, que é o balé das pernas, o compasso de abrir e fechar, que é notado até pelos transeuntes dos corredores quando as portas estão escancaradas.
Neste contexto, a professora distribuiu a prova “ferradora” e avisou que só aceitaria a caneta as respostas discursivas, quando foi interrompida por um engraçadinho do fundão que disparou uma pergunta:
- A prova é com consulta professora? Perguntou o sujeito do fundão.
- Pode sim, consultar Deus a qualquer momento! Respondeu a professora com tom de deboche.
A prova começara sem nenhum transtorno aparente. Entretanto com quarenta minutos de prova, como de costume começava o balé das pernas lá pelos lados da direita, enquanto que pelos lados da esquerda o ritmo era ditado pelo “enrolar sanfoninha”.
A novidade dessa vez na banda de forró era o novo vocalista. Ele acabara de chegar direto da ponte aérea do além, ou melhor, do “condomínio dos pés juntos” e se manifestara num coro tedioso, lá pras bandas do fundão. O canto desafinado foi tomando proporções espirituais, quando a professora achou até que era a música “Romaria” do Rentato Teixeira, cantada pela interprete Elis Regina. Diante da situação a professora se aproximou do cantor e perguntou:
- Você está cantando, cochichando ou ruminando meu jovem?
- “U.u.u.....Mizefir”, "Ogum iê!" "Okê arô!" "Odô-iá!". Respondeu o aluno cantor (já incorporado pelos guias espirituais) acompanhando o ritmo do “enrolar sanfoninha” e do balé das pernas.
Não dera nem tempo da professora escutar o restante da música, pois a turma saiu correndo e caindo por cima das cadeiras e mesas, enquanto o “pai de santo cantor” se manifestava durante a feitura da prova “ferradora”.
Na semana seguinte a prova foi devolvida para os estudantes e o nosso o “pai de santo” tirou nota zero. Não era novidade para os colegas, entretanto segundo a professora a situação estava sob controle, e que dá próxima vez o fulano não deveria:
- Incorporar o orixá “oreia seca” na hora da prova!