SE TORNANDO POLITICAMENTE CORRETO

Vencido pelo cansaço. É o que aconteceu. O que adianta para uma pessoa, acontecer de ela ter uma bela consciência da realidade, uma visão esclarecedora e útil para os demais, ser essa pessoa capaz de tecer em textos ou palavras bons argumentos que explicam o que ela observou, ter onde expor para uma coletividade esses argumentos, e, no entanto, se encher de úlcera devido à fúria causada pela ignorância da audiência, que vem da lobotomia que essa audiência sofre? Temos que aceitar que o agir politicamente correto, que é o que não devíamos fazer, tem patrocinadores muito mais fortes e eficazes do que a gente. Não é nem por conta do alcance maior, mas sim por causa do dispositivo chamado credibilidade. Simples seres humanos não conseguem provar para a multidão que se furarmos o pé com um prego irá sangrar, caso entes com maior credibilidade no que dizem disserem o contrário. Nem me pergunte o porquê de as pessoas não experimentarem em si próprias furar o pé com um prego para certificarem-se de quem está certo em vez de ir logo confiando naquele que aparece na mídia como portador indelével das informações. É bem assim: o sujeito tem a faca e o queijo na mão, mas prefere que outro mais capacitado corte por ele. Eu desisto.

E desisto porque sou brasileiro. Sim, sei que continuo sendo politicamente incorreto dizendo isso. Mas é só dessa vez. É porque parece que isso de o brasileiro desistir fácil das coisas dá para qualquer um notar. É só olhar para o lado. Tá cheio de gente que quer ser feliz, foca na felicidade que ele quer encontrar, e se põe a fazer tudo que em vez de patrocinar a felicidade almejada colabora com o contrário. Se você quer ser feliz e rico, então as duas coisas não podem conflitar. E elas só não conflitarão se for certo para você que uma vez rico você não terá que lidar com coisas que o torna infeliz ou temporariamente infeliz. E aí, como saber?

Conheço um caso em que um homem tinha três filhos jovens e queria ficar rico para que ele, a esposa e os filhos pudesse ser felizes. Para ele felicidade era não sofrer a família dele privação de qualquer tipo. Ter os filhos estudando e livre do mundo do crime, trabalhando com serviços leves e que dão bom status profissional, a casa aconchegante, a mulher sempre a cuidar dele e a manter-se porta-voz da prosperidade que ela e os outros membros da família experimentam.

Só que um dos filhos, que já se envolvia com drogas antes mesmo do pai enriquecer, achava que a partir de então ele não precisaria mais sofrer privação da droga ou ter que realizar árduos trabalhos sujos para manter o vício que o idiota quando teve a oportunidade de fazer diferente e não o constituir sucumbiu. O pai, caretão, obviamente disse para o filho que isso não fazia parte do modelo de vida feliz que ele trabalhou honestamente para construir. Negara ao filho a mordomia. Disse para ele que o mais possível seria um internato pró-desintoxicação. O menino de dezesseis anos recusou. Desagregou da família depois de uns furtos e foi parar na lama, cuspindo antes no modelo de vida feliz do pai. Este, sentiu na carne que brasileiro desiste sim e fácil demais. O sentimento cristão de amor pela prole acima de qualquer coisa foi o primeiro a experimentar queda. Mas, o status de homem rico foi mantido.

Sei lá se esse caso é um bom exemplo. O que eu queria mesmo era escrever algo para me desculpar com aqueles que se aborreceram com meus textos nesses últimos dias. A partir de agora serei todo correto e escreverei coisas que não fedem e nem cheiram. Chega de ser convicto e fiel com a própria convicção. Como dizia Oscar Wilde: "Pouca sinceridade faz um estrago; Mas, muita sinceridade é absolutamente fatal". A gente só faz inimigos sendo sincero. É melhor estar em paz do que estar certo. Até mais, amigo!