Marketing entorpecente
Às voltas mais uma vez com um processo eleitoral o Brasil parece entrar em uma espécie de letargia doentia, que se repete a cada dois anos, com as pessoas se envolvendo no processo como se fosse a sua primeira vez, mesmo aquelas que já trazem as marcas das muitas desilusões.
Nesse clima de ofuscamento que nos inebria, a memória parece falhar, diante de novas ou antigas promessas, as quais facilmente se mostrarão impossíveis de serem cumpridas, quando cessar o efeito do nevoeiro imposto pelos mecanismos de propaganda aos quais somos inevitavelmente submetidos.
Dentre esses mecanismos há os tão divulgados números de pesquisas de intenção de voto, que em condições normais, a salvo do efeito entorpecente do bombardeio do marketing, nenhum de nós deveria dar o menor crédito, pela insignificância do público pesquisado, pelo pouco rigor científico dos métodos aplicados, ou até mesmo pela incerteza de que os números divulgados reflitam algo de verdadeiro. Na verdade, não se pode crer na seriedade dos nossos institutos de pesquisa, pois até neles já se encontraram resultados manipulados ou erros escandalosos.
Tudo isso, obviamente, expõe não mais que a verdadeira cara do nosso povo, que não confia na própria sombra e não tem dela mesma um voto de confiança. Nossa ética é essencialmente corrompida já no nascedouro. Não a temos internalizada como se sabe necessário a um povo que anseie por respeito.
E como poderemos ser respeitados por quem quer que seja, se não nos respeitamos a nós mesmos? Permitimos se candidatarem à administração do nosso Estado pessoas aparentemente desequilibradas. E ainda rimos disso. Pior. Elegemos tais malucos.
Seja qual for o resultado das eleições deste ano e dos próximos, não se pode esperar um Brasil melhor, se os eleitores, aqueles que detêm em seu voto o poder de escolher bons administradores, não se conscientizarem de que a coisa é séria. Se a Justiça Eleitoral e a Constituição Federal não são barreiras para que alguns banalizem o processo e o tratem como brincadeira ou palhaçada, que o povo, de quem emana o poder, seja o empecilho aos avacalhados e moralize a coisa.
Quem contrataria um palhaço, ou um pastor evangélico, padre, jogador de futebol, comentarista esportivo, mulher pelada, etc. para administrar a construção de sua casa? Ninguém, certo? Por que então continuamos elegendo e pagando caro a pessoas sem qualificação para administrar o país, o estado, a cidade? Precisamos nos vacinar contra o veneno do marketing das campanhas eleitorais e mudar nosso Brasil para melhor.