A CARREIRA DE SIMÃO
Sessenta anos depois ...
Simão acorda já denotando sinais de felicidade. Põe em ordem a cama do casal, como de costume, canta em voz alta uma canção do seu tempo. Aquele vozeirão faz despertar a netinha que dormia no quarto ao lado.
- Vovô o senhor me acordou. Cante mais baixo, por favor !
- Nada disso. São seis horas da manhã ! E, hoje, se a mocinha não sabe é quinta-feira e, pelo que sei há previsão de aula na sua escola. Seus pais permitiram que você pernoitasse na casa do vovô, com a recomendação, levar a princesinha ao colégio. Daqui a meia hora vamos seguir viagem. Trate de levantar e preparar-se para sair ! Sua avó está na cozinha desde cinco da matina . O café deve está pronto.
- Desculpe vovô querido ! Não foi minha intenção desmanchar sua felicidade. Pode cantar à vontade. E, eu até gosto de suas músicas. Mas, posso saber o porquê desse seu humor tão contagiante ?
- Ah ! Nem estava pensando compartilhar. Mas, um pedido seu é uma ordem. Primeiro vá à copa tomar o seu café depois guarde o lanche. Assim que terminar rumaremos a sua Escola. No caminho te conto essa história.
Depois do repasto os dois saem de mãos dadas, sentam-se no banco traseiro do carro do vovô. O pai de Sophia toma a direção do Tucson e seguem viagem.
- Vovô querido, termine a história !
- Bem ... Isso aconteceu há sessenta anos. No dia 31 de julho de 1954 recebi minha primeira promoção na carreira que escolhi. Contava à época vinte anos dois meses e seis dias de idade. Um sonho tornado realidade na tarde daquele dia. Quando o Sargenteante leu o meu nome escrito Boletim Interno do Quartel 16º Regimento de Infantaria “soldado nº 324 Simão Pedro de Aruana promovido à graduação de cabo” fiquei tão contente que sorri. Um sorriso contido tendo em vista não ser permitido outro tipo de manifestação naquele momento por que me encontrava sob o comando do Capitão Comandante da Companhia.
Depois que recebi a primeira insígnia, um par de divisas com duas fitinhas, quase chorei. Não o fazendo por receio de ser tomado por fraco. Depois do “rancho”- jantar daquele dia - distanciei-me dos colegas a fim de melhor contemplar aquele adorno do meu fardamento. Volvi os ombros uma, duas, três, sei lá quantas vezes para ver as divisas postas. Chorei de emoção pela conquista alcançada. “Obrigado Deus, obrigado Jesus, obrigado meu pai e minha mãe pelo que sou”. Falando baixinho para que os colegas não ouvissem.
Por isso Sophia, tenho motivos sobejos para ser um homem alegre e feliz, hoje de forma muito especial, pois daí iniciou uma sequencia de outros momentos que culminou no meu sucesso profissional.
Quando o vovô Simão termina mais um capítulo de sua história o carro adentra o estacionamento da Escola. Sophia envolve avô num carinhoso abraço e após beijar o rosto dele diz “vovô eu te amo. Bênção !”
- Deus te abençoe querida e boas aulas. Responde Simão.