No navio todos os gatos são... Invisíveis

Essa foi contada por por meu saudoso pai milhares de vezes, sempre lembrando que presenciara o fato, dai a precisão dos detalhes... Já lá pelo quarto ou quinto dia de viagem os passageiros, na sua maioria recrutas para trabalhar nos seringais da amazônia (Então arigós que viriam ser os "Soldados da Borracha"), já se permitiam certas intimidades típicas da época, no início da década de 1940. O Navio era grande mas a lotação estava completa e por isso a tripulação estava sempre atenta, quer quanto à segurança material quer quanto a disciplina da recrutada.

Dona Jacira, uma linda morena que não tinha mais de 22 anos era a única que trazia criança de colo. E por isso ambos eram o centro das atenções daqueles preguiçosos dias de nada-prá-fazer. Seu bebê, não chorava nunca e isso ajudava ainda mais a conquistar os demais passageiros. O bebê era tão tranquilo que até dava trabalho para ser alimentado. Durante a amamentação soltava o peito da mãe por varias vezes brigando-a a insistir para que ele continuasse. Pois bem, como sempre acontece, quando uma linda jovem expõe um belo seio, ainda que para a mais sublime das funções que a maternidade acomoda, sempre tem algum espertalhão para tirar uma casquinha e dar aquela olhada na formusura. E naquele caso, não era apenas um, mas mais de uma dezena de quase-meninos, muitos ainda totalmente virgens em matéria de sexo.

Eis que dado momento dona jacira diante da recusa do filho e do atento olhar dos seus boquiabertos e pontuais expectadores, decreta para o bebe em uma voz que mais parecia uma cantiga: "Toma filhinho o peitinho da mamãe. Se o bebezinho não tomar, mamãe vai dar pro gatinho". Pois é, como o atento leitor já imaginou, um miado fino e longo se fez ouvir de um convés ao outro. E, em seguida outros e mais outros miados se propagaram, deixando a jovem senhora rubra de vergonha e raiva. Como que por impulso surge "seu" "lampião", cujo apelido ganhara por bravuras nada amistosas lá pelo sertão do Piauí, um senhor de quase 50 anos, o marido da bela e jovem lactante. Uma das mãos trazia uma enorme faca peixeira e a outra fazia o gesto de "chamar gatos": "Bichaninho! Chaninho!... Como é que deixaram entrar gatos nesse navio?... Chaninho, Bichano...".

Como num passe de mágica todos os bichanos sumiram... a viagem seguiu tranquila...