Maria vai com as outras!

O título acima, aplica-se a pessoas sem grande vontade ou facilmente influenciáveis. Mas de onde vem este célebre dito? Nada mais, nada menos que devido ao comportamento de uma rainha, Maria I de seu nome, mas vamos a factos.

A rainha D. Maria I, foi a primeira de quatro irmãs. Filha do rei D. José e da rainha D. Mariana Vitória, coube-lhe ser ela a primeira mulher a governar o país, à falta de irmão varão. Com todos prós e contras inerentes com a legislação da altura a obrigar a casar com um fidalgo Português. A escolha recaiu no seu tio paterno, dezanove anos mais velho, D. Pedro que recebe o título de rei consorte.

D. Pedro III cognominado de “Sacristão” devido ao seu fervor religioso ou “Capacidónio” devido à frase continuamente repetida, quando se referia a alguma pessoa que achava competente «É capaz e idóneo». Mas voltemos à referência do título.

A princesa teve uma educação culta. Desde muito pequena, aprendeu a ler português e castelhano e de tal forma era tão boa aluna, que aos quatro anos já estudava francês e aos cinco deu os primeiros passos no latim. Tudo corria bem quando aos 17 anos sofreu de uma grave doença (Supôs-se que fosse varíola). Não morreu por milagre. É desconhecido as sequelas desta tão grave doença, mas crê-se que tenha influenciado o seu futuro

Aos 18 anos casa com o seu tio, irmão do pai. Corriam boatos de que D. Pedro era impotente ou pelo menos indiferente. Finalmente aos 27 anos nasce-lhe o primeiro filho. O primeiro de seis, calando assim as vozes maldosas.

Tudo corria bem para a nossa futura rainha. Baptizou o filho com o nome de seu pai José. Um jovem promissor e futuro rei. Casam-no com 15 anos, com a tia materna, de 30 anos. Não houve filhos, mas caramba! Já só faltava casar os filhos com os pais!

Três dias depois do casamento, morre o rei D. José e sobe ao trono D. Maria I. Senhora muito sensível, viu-se a braços com um reino, que pela primeira vez tinha uma mulher como soberana. Para além do mais, havia que julgar o ex-ministro de seu pai, culpado da hedionda morte dos Távoras.

Na sua fragilidade, tinha pesadelos, com o seu pai sendo consumido no inferno, empurrado pelo Marquês de Pombal.

Num processo que foi apelidado de “Viradeira”, a Rainha reabilitou os Távoras e mandou libertar os presos, mandados encarcerar pelo marquês. Desterrou o marquês para as suas terras em Pombal, mas continuou a receber o vencimento até a altura da sua morte.

Em 1886 morre-lhe o marido e tio, de quem muito gostava. A sua morte foi muito sentida, debilitando-a psicologicamente. Dois anos depois, a hecatombe, morre o seu “menino” (D. José) com apenas 27 anos. A loucura apossou-se dela aos poucos. A revolução francesa e execução do Rei Luís XVI de França foram a machada final. Estava definitivamente louca, como testemunhou uma junta de dezassete médicos.

Hoje há estudos sobre a causa da sua loucura. Documentos assinados pela rainha D. Maria I continham elementos tóxicos. Cientistas portugueses estudam constituição do papel e da tinta e indicam que a toxicidade dos elementos poderia provocar loucura.

Mas vejamos os factos: Assiste ao terramoto de Lisboa com toda a miséria inerente à destruição e milhares de mortos, de seguida sofre uma terrível doença que não morre por milagre. Assiste ao despotismo do Marquês, com a expulsão dos jesuítas, a horrorosa morte dos Távoras, o próprio padre Malagrida é queimado vivo, a morte do pai, do marido e do seu filho D. José, a execução dos monarcas franceses… Caramba! É de loucos! Ainda mais, para alguém que em criança já denotava uma certa fragilidade mental.

Quando a corte fugiu para o Brasil, houve momentos de grande dificuldade para a embarcarem, no entanto, num raro momento de lucidez à vista de toda a pressa disse. «Devagar, quem nos ver, dirá que estamos a fugir!»

Nos últimos momentos da sua vida, andava sempre conduzida pelas suas aias , a ponto de o povo dizer: «Lá vai D. Maria e as outras» Eis a razão do dito «Maria vai com as outras» que se aplica a pessoas de débil vontade.

Lorde
Enviado por Lorde em 07/10/2014
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