O discurso do paraninfo
Um dia – não faz muito tempo –, escrevi um discurso de paraninfo, a pedido de um amigo, que me procurou e me pediu que o fizesse. Foi interessante por duas coisas: a primeira é que eu não conhecia o paraninfo, nunca o vira antes. A segunda é que o discurso, a despeito de escrito com carinho, não foi apresentado, não foi lido.
Pois bem. Estava no meu gabinete, trabalhando normalmente, quando a secretária anunciou: “Doutor, o Sr. Fulano ...” Como não o conhecia, respondi, como normalmente faço em situações com essa: “Não sei nem quem é, mas pode mandar entrar.”
O homem entrou na sala e, ainda de pé, já foi me dizendo: “Doutor, nós nem nos conhecemos, mas eu admiro muito o senhor, pelos seus artigos. Acompanho, há anos, suas crônicas publicadas no ‘Correio do Tocantins’. O senhor escreve muito bem e é por isso que estou aqui.”
Muito feliz, obviamente, eu pedi a ele que se sentasse, para conversarmos, tendo ele me contado que ali estava porque fora escolhido paraninfo de uma turma de Pedagogia, e, como não sabia sequer como começar, queria que eu lhe escrevesse o discurso. Disse-me que me pagaria os honorários. Queria, porém, que fosse algo simples, muito simples, só algumas linhas.
Escrevi o discurso. E não lhe cobrei honorários. Para minha surpresa, contudo, encontrando-o recentemente no Banco do Brasil, agência da Cidade Nova, fui informado de que o substituíram como paraninfo e, por isso, o discurso não foi feito. “Certamente, acharam alguém com mais dinheiro”, disse-me ele. “Que coisa!”, digo eu agora.
Pois bem. Cassaram-lhe a palavra, mas eu aqui lha devolvo! Pena que não lhe possa aqui declinar o nome por não saber se ele iria gostar que o fizesse. Eis abaixo, pois, o discurso, a aula de humildade que eles perderam:
“Senhores Graduandos em Pedagogia da Turma ‘...’
Recebi, com indizível alegria, o convite o honroso, gesto com que os senhores me prestaram a homenagem para mim toda especial de ser-lhes o paraninfo, ministrando-lhes, simbolicamente, a derradeira aula da graduação. Muito obrigado!
A honra é muito grande e a minha alegria mais ainda. Quero, contudo, lhes dizer da minha incapacidade. Dizer o que aos senhores a esta altura? São professores e, com certeza, brilhantes professores! Que tenho eu para lhes ensinar, para lhes dizer?
Quero, pois, confessada a minha incapacidade e expressada a minha humilde gratidão, tentar lhes deixar algo de lembrança para a vida profissional, que começa agora. Algo simples, mas é o que lhes posso oferecer e que consiste em três palavras: crença, ética, ação.
Crença. Quero-lhes falar de crença, sim, porque isso é indispensável para um bom profissional da área de Ciências Humanas. Mas, crença em quê? Crença em quem? Crença no ser humano, na pessoa, no aluno, no pai, na mãe. Crença no ser humano, como algo que pode ser melhorado, aperfeiçoado e que também, em qualquer circunstância, tem muito para oferecer. Creiam nisso! Acreditem nisso ao longo de suas vidas, como pessoas e como profissionais da Educação.
Ética. Quero-lhes falar de ética, embora de forma muito simples. Ética no agir, todos os dias de suas vidas, porque, sem ética, é impossível prestar um bom serviço; sem ética, é impossível educar; sem ética, é impossível servir e ser servido. Ética! Ética, em tudo e por tudo, senhores professores!
Ação. Quero-lhes falar de ação, porque não poderia deixar de fazê-lo. Sim, não poderia. Ação, tenham ação. Como diriam outros, tenham atitude! Ação é, como sabemos, o ato ou efeito de agir. Ajam! Ajam para o bem da Humanidade, acreditando no ser humano como instrumento de dar e receber, mas ajam com ética!
Eis, pois, o que, profundamente agradecido, lhes tenho a oferecer! Eis aqui, sem pretensão de sapiência, a última lição. A vida profissional começa agora. Parabéns e muito obrigado!"