PRESENTES PARA LER

Falar em dar e receber presentes é, inquestionavelmente, um assunto que agrada a todos, independente de faixa etária, sexo e profissão.

Para professores “presentes para ler” são os preferidos. Na minha trajetória enquanto professora de Língua Portuguesa, recebi muitos presentes dos meus queridos alunos e colegas de trabalho; se for analisar quantos livros ganhei.... “Nem” consigo perder a conta!! Entre os amigos, esse cenário também não muda, recebemos presentes de aniversário, namorados, presentes de natal.... Enfim, os livros sempre ficam para o final, isto é, quando aparecem na lista!

Nas andanças de educadora, tenho vivenciado, ouvido e visto muitas situações que confirmam o que aqui escrevo. O fato mais recente, aconteceu numa formação voltada para profissionais, docentes da área de Língua Portuguesa . A culminância do curso foi a produção de uma crônica (esta crônica), resultado de muita observação de cada fato. Observei e analisei a postura de muitos colegas: uns se posicionavam de forma mais crítica e investigativa, alguns falavam mais, outros preferiam apenas ouvir e absorver todo o vasto conhecimento do professor Doutor Francisco Aurélio, que conduzia o nosso encontro.

Aprendi com o professor, que o cronista é um exímio observador, decidi, portanto ficar neste campo da observação, apesar de querer opinar e fazer indagações.

Em dado momento do encontro, percebi como os caros colegas se encantaram com os “presentes para ler”, regalos gentilmente distribuídos pelo professor no primeiro dia do curso. Os livros e as viagens pela literatura do Espírito Santo nos acompanharam durante dois dias de estudos. Percebi o encantamento de cada cursista ao viajar no mundo de cada escritor capixaba, ao se deleitar com fragmentos de textos dos livros que ganhamos. Notei o brilho nos olhos do professor ao ler para nós e a reciprocidade de cada colega ao receber essas leituras. Lembrei-me então da personagem dos escritos de Clarice Lispector, a menina que sonhava ter um pai, dono de livraria. Ah... Como fiquei sonhando em ter um professor como aquele que estava na minha frente, um professor dono de tanta sabedoria, dono de tantas andanças! Ficaria horas ouvindo suas histórias, como aquele livro grosso que a menina de Clarice tanto sonhava; um livro para se ficar dormindo com ele, comendo com ele, vivendo com ele...