O "BARCO DO BALATAL"

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Cheio de nomes de políticos e candidatos a políticos que não se elegeram ou conseguiram reeleição, o “barco do Balatal”, singra os rios do Amazonas, transportando candidatos a deputados e ex-parlamentares não reeleitos, deixando-os em portos com suas promessas não cumpridas e um lamento triste de pergunta “onde foi que eu errei”. Não encontrando respostas, culpam assessores de campanha pelas suas derrotas. Outros, com os olhos vermelhos, por terem gasto muito dinheiro na campanha, além do que podiam, não sabem como pagar suas dívidas às pessoas que se iludiram com suas promessas e também perderam seus investimentos para o futuro caso fossem eleitos ou reeleitos, com desvios de dinheiro público através de contratos fraudulentos ou licitações dirigidas, como se fosse um empréstimo.

O “barco do Balatal” seria resultado de um imaginário popular, mas que serve como punição a todos os políticos que não honraram os cheques em branco que receberam quatro anos antes e retornaram para pedir novos cheques em branco, em forma de votos. Muitas vezes, deputados com mandatos e que se destacaram a nível nacional - Eduardo Suplicy (PT) e Pedro Simon (PMDB) - ou local que, por falta de assessoria de comunicação eficiente, não tiveram a mesma ressonância em seus Estados também integrarão a lista de passageiros especiais do “Barco do Balatal”.

Segundo garante o jornalista e blogueiro Márcio Noronha (blog do Noronha), a origem da palavra “Barco do Balatal”, estaria na revolta do povo e seria mais uma das interessantes histórias das tradições de Manaus. Diz que a Rádio Difusora do Amazonas, “transmitia” a saída do folclórico barco de recreio que levava os políticos que não conseguiam se reeleger a qual sua avó ouvia muito, quando ele morava no bairro Alvorada e ainda era pequeno. “Havia interessante sonoplastia, que fazia mesmo lembrar o barulho dos portos de cidades – acendia a imaginação de qualquer pessoa que fazia uma viagem de recreio pelos rios do Amazonas”, principalmente o hoje competente jornalista que ainda era pequeno nessa época. Mas lembra, ainda, que existem folclores parecidos em muitas cidades da Região Norte e cita especificamente o Estado do Acre, de onde sairia uma bolsa levando políticos para a cidade de Manacapuru, no Amazonas, historicamente refazendo uma época em que o ainda território federal do Acre sofria muitas intervenções políticas e o governante recém-nomeado sempre “que lá chegava despachava o antecessor e aliados para Manacapuru – cidades para eles, no início do século passado, era a mais longe possível”.

Verdade ou mentira, não sei, mas posso garantir que a expressão “Barco do Balatal”, ficou mais forte ainda quando a coluna democrática em que várias pessoas, jornalistas ou não, escreviam notas curtas na coluna coletiva “Território Livre”, do Jornal A NOTÍCIA, começou a oferecer passagens de graça para os políticos que perdessem as eleições ou reeleições e desejassem viajar com suas promessas de campanha não cumpridas no “Barco do Balatal”. Meu sogro, o político Francisco Guedes de Queiroz, 26 anos como deputado estadual e dois anos como vereador do MDB, em Manaus, tinha pavor de receber uma passagem no barco. Na época da contagem manual dos votos, Queiroz ficava sempre nas últimas colocações, até serem contados os votos quando eram do município do Careiro e. especialmente, as do distrito de Cambiche, sua terra, ele disparava na frente e atropelava outros candidatos que já se consideram eleitos, com seus votos muitos candidatos. No final da década de 70, quando iniciei minha carreira, quase todos os dias publicavam uma nota curta e rápida na Coluna “Território Livre”, alimentando a possibilidade de “Chico Queiroz”, ser um passageiro do Barco, mas isso nunca aconteceu. Contudo, o deputado federal Joel Ferreira da Silva, campão de votos pelo MDB mudou de partido porque o governador José Lindoso lhe prometera que se o nome de seu irmão, o então juiz Daniel Ferreira da Silva constasse na lista de indicados pelo Tribunal de Justiça, o nomearia desembargador do Tribunal de Justiça do Amazonas. O nome de seu irmão constatou na lista, Daniel mudou de partido, decidiu disputar o cargo de deputado federal pela Arena, mas entrou no barco e abandonou a política.

Talvez o radialista Waldir Correia, da Rádio Difusora do Amazonas, seja o criador ou fomentador no imaginário dos amazonenses, do “Barco do Balatal” e melhor, ouseria o que mais o personifica. Segundo ele, o barco “Balatal-Titanic”, está encalhado na enseada da Ilha do Marapatá, nas proximidades de Manaus, pronto para receber os perdedores das eleições no Estado, incluindo alguns nomes que foram campeões de votos no passado. Ele teria três classes: a primeira para quem era deputado, recebe votos, mas não é eleito; a segunda classe para quem está disputando a função pela primeira vez e a terceira classe para quem não recebe nenhum voto. O seu proprietário seria o próprio radialista Waldir Corrêa, o Garotinho, que garante que o barco nunca foi registrado na Capitania dos Portos. Isso não passa de uma brincadeira, uma sátira crítica, mas vai contando um pouco da história política do Amazonas, porque o barco já teria transportado um dos mais ilustres passageiros, o ex-governador e ex-senador Gilberto Mestrinho, em 1988, quando foi derrotado por Arthur Neto, na eleição para prefeito de Manaus.

Brincadeira, imaginário popular ou lenda, o Barco do Balatal está navegando triste de quatro em quatro anos pelos rios do Amazonas, deixando cargas de santinhos e passageiros derrotados por suas promessas e não cumprimento de seus deveres depois de eleitos! Seria um castigo para os que prometem e não cumprem porque não merecem representar os eleitores na Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas.

carlos da costa
Enviado por carlos da costa em 06/10/2014
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