A MORTE DA FORMIGA
CRÔNICA DE VALDEZ JUVAL
O jovem descia a escadaria de seu apartamento. Morava no primeiro andar e sempre dispensava o elevador.
No último degrau percebeu que pisara em um minúsculo ponto preto, quase imperceptível, que se movia lentamente pelo chão. Parou e se agachou para ver de perto o que de fato acontecera.
Estava confirmado: era uma pequena formiga.
Sentou-se em um dos batentes e com os joelhos juntos, cruzou os braços sobre eles e debruçou sua cabeça.
Um drama surge em sua consciência. Destruíra uma vida.
Mesmo em se tratando de um inseto, era indiscutivelmente um gênero de maior sucesso na história terrestre, constituindo-se de grande percentual de toda a biomassa animal da Terra.
Mas, não seria esta a principal razão de seu constrangimento. A imaginação lhe transportava para o ser vivo e o direito à vida. As perturbações se sucediam mas não estaria agindo com correção se deixasse esse drama tomar conta de sua imaginação.
A vida é uma condição de existência dada por Deus e somente Ele pode tira-la. Filosoficamente é de se considerar que esta é a lei natural dos racionais embora a humanidade não queira entender.
Um adulto, neste instante nenhuma importância daria para o que acontecera mas o jovem mancebo quis refletir sobre o que de fato seria a vida.
Concentrou seu pensamento que a vida é o espaço entre o nascer e morrer. Tão simples e tão macabro assim? Seria apenas isto? Quase impossível defini-la. Teríamos que conhecer os diversos prismas das palavras que se formam de um simples alfabeto.
Sem pretensão de buscas maiores do conhecimento, nem mesmo pela consciência, memória, crenças, fé ou culto, reconhecemos apenas que tudo independe da vontade pois se assim não fosse, uma pedra não rolaria de um morro para exterminar alguma coisa e nem um jovem mataria propositadamente uma simples formiga.
A vida é o momento.
É mais simples e fácil de se dizer.