A folhinha do Sagrado Coração
Anual, e jamais de ir pros anais, pois folhinha por folhinha que a cada dia retirais, ao cabo do ano é que se desfaz. Acho que já foi também chamada de folhinha mariana, publicada pelas edições Paulinas, editora Vozes e quem sabe não estaria agora, por hora a mil, nas mãos da
todo-poderosa Abril?
O que nela ressaltava era a tom predominantemente rubro da gravura, e muita vez só no matiz mudava em torno da figura de um Jesus meigo, quase feminil, aloirado, a exibir, aí varonil, o coração dilacerado, de amor extremado.
As folhinhas, diminutas, enfeixadas por um capitel metálico eram apostas à gravura e saber arrancar com destreza as primeiras era um desafio, de tão apertadinhas. E no campo maior de sua cara, não Campo Maior do Piauí, ô cara, a data, em preto para os dias de semana e em vermelho para os domingos, dias de festa e guarda. À sua volta, notações sobre o/a santo padroeiro/a, alguma efeméride ou um pensamento desses de exaltar o espírito.
Mas o por que mais se ansiava era o verso da página que se destacava, cada dia que passava - e não duvido até que muita boa alma as colecionava: feito num almanaque, vinham curiosidades, em forma pilular e que era bom até pra não enfarar.
Receitas de bolo, instruções sobre o plantio de determinado legume, historieta enlevante sobre algum santo, piadinhas comportadinhas, fases da lua, provérbios...
Meu passatempo favorito eram as charadas, as novíssimas, cuja técnica de decifração nos ensinou papai. Cheguei a resolver algumas, a ponto de já não achar mais graça nas tais novíssimas e começar a pensar em noviças. Ou novilhas? Y así se pasaron los años - pero se quedaron los daños, y mis desengaños.