Sonhos...
Sonhos...
Outro dia mesmo, era uma menina, magricela, franzina e de ralos cabelos, ajeitados em um rabo de cavalo, no cocuruto da cabeça. Gostava desesperadamente de ler...Tudo o que caísse em suas mãos, que fosse digno de ser lido, ela devorava!
Tinha muitos sonhos, como qualquer menina de sua idade. Mas, a cidade onde vivia com seus pais e irmãos, não tinha nada de bom a lhe oferecer, só contava com uma escola primária. Sabia que, depois de terminar o primário, seus estudos seriam interrompidos e, ficava muito triste quando se punha a pensar nisto. Divertimentos então, nem é bom falar, lá de vez em quando, especificamente no verão, eram montados, num terreno baldio que ficava em frente á sua casa, um circo ou um parque de diversões. Ela gostava e torcia, todos os anos, pra que fosse montado ali, o circo, porque parque de diversões não fazia muito a sua cabeça. O circo lhe trazia, o tipo de coisa que gostava, que eram as peças teatrais e os cantores de sucesso da época. Quando podia assistia...Era muito pobre, o pai mal ganhava para sustentar os sete filhos e, com onze anos, após terminar o primário foi ela trabalhar. Ganhava, honestamente, seu dinheirinho, com o qual ajudava em casa e, comprava roupas e calçados para si e para as outras duas irmãs mais novas. Os vestidos, ela mesmo fazia, pois estava aprendendo, no período da noite, com uma conhecida de sua mãe, que era costureira e, a ensinava a cortar e costurar os tecidos que comprava. Geralmente eram feitos, três vestidos iguais e da mesma estampa. Ela os fazia durante a aula... Pois não possuía, ainda, sua SINGER, que passou a ser mais um de seus sonhos, quando começou a entender de costura.
Todos os outros irmãos, começaram a trabalhar cedo. Era uma vida muito sacrificada.
Conto isso tudo pois, é o que eu vivi, só pra que, as pessoas que não sabem, entendam que, trabalhar cedo não mata ninguém, pelo contrário, da mais responsabilidade e, faz com que o indivíduo acorde para a vida, seja ela, pobre ou opulenta. E, os nossos governantes estão aí, só para estragar uma coisa que é tão óbvia! Passaram-se muitos anos, muitas peças de teatro foram assistidas, no circo, cantores como nosso saudoso Nelson Gonçalves e, muitos outros, foram ouvidos, nos circos da vida.
Houve os casamentos, (eu digo os, porque já estou no segundo) vieram os filhos, netos e, depois de tanto tempo, os sonhos não ficaram esquecidos, com sessenta e três anos, depois de ter criados, os filhos, ainda foi tempo, para ocupar um lugar nas carteiras de uma escola, até o segundo grau. Escola esta, onde fiz muitos amigos entre colegas e professores... E, não me digam que, começar a trabalhar cedo, tem algum inconveniente! Hoje, aqui escrevo, que é o que gosto de fazer...