CABE O MUNDO NA CABEÇA QUE LEVA O BALAIO.

CABE O MUNDO NA CABEÇA QUE LEVA O BALAIO.

“Pode levar madame, mais parece uma “cara de cavalo”! Expressão tão cotidiana num universo repleto de diversidades em todos os pontos de vista. O vendedor de frutas refere-se ao abacaxi comparando-o com a cara de um cavalo pelo tamanho e largura do fruto. Realmente é de impressionar tamanha criatividade na abordagem ao cliente.

Centro aglutinador cultural. Apropriadamente poderia chamar este lugar, se sua principal atribuição não fosse a comercialização de produtos, contudo, não podemos desprezar esta denominação pela troca de informações e culturas das mais diversas camadas sociais. É tênue a fronteira entre o feirante semianalfabeto que sabe com precisão a exata porção que marcará um quilo na balança, e o pós-doutor que não diferencia um pepino de uma abobrinha. Considero um “intercambio antropológico” aproximando o rico do pobre, o ladrão do juiz, a madame da prostituta, o macumbeiro do mais fervoroso evangélico, onde em algum momento convergem para um único alvo: Uma boa negociação.

Vargens, vestidos e velas, panela, picareta e pimenta, sapato, sacola e sorvete, sangue, suor e saliva. De tudo podemos encontrar, e para tudo, um fim específico.

Alguém que não seja da nossa região, ficaria chocado com o chouriço: Doce feito com sangue de porco. Que tal o delicioso “picado”? Vísceras cozidas com temperos verdes e secos, ou ainda a famosa cabeça de bode servida com caldo e legumes. Encontramos em alguns estabelecimentos colchões de palha revestidos de chita costurados a mão, tecnologia tipicamente nordestina; Fumo de rolo e cristaleiras Luiz XV; Carrinhos de lata e Iphone seis; De caldo de cana com limão, e pasmem: A um anúncio de um senhor a procura de uma mulher para um relacionamento sério, inclusive citando todas as características necessárias para tal: “Sou viúvo aposentado, 69 anos, ganho mil e setecentos reais, tenho casa própria e carro. Sou moreno claro, 1.65cm de altura e sete filhos (mas todos são casados). Estou procurando uma mulher de até 35 anos para me casar. Ela tem que saber cozinhar, lavar roupas, arrumar a casa e fazer sexo três vezes por semana, ou mais, pois meu membro ainda funciona muito bem. Contato pelo fone: xx-xxxx-xxxx”. É surreal tamanha objetividade, Ignorando completamente qualquer sentimento que possa manter duas pessoas juntas, bastando que se tenha “as qualidades” exigidas no folhetim, para a felicidade matrimonial se consolidar.

São tantas peculiaridades que não consigo mencionar todas. Temos a feira de passarinhos, de carne, de galinha, feira de troca, de queijo, de ferro velho e de roupas... Armazéns que se vende de tudo: De recarga de botijão de gás a sino de igreja; de garrafadas milagrosas a sinal de internet.

Neste mundo de contrastes, se percebe de a simpatia da vendedora de flores, ao abuso do taxista; da fidelidade da senhorinha na banca de hortaliças, ao malandro que adultera a balança; da cara de quem comeu e não gostou da dondoca ajudando a mãe com as sacolas, a indiferença do peixeiro em relação ao cheiro típico do lugar; Da indignação de quem teve seu meio quilo de carne moída subtraída do balaio, ao encantamento de um turista, constatando claramente os diferentes ‘tipos’ encontrados naquele caldeirão. Visite as feiras livres.

Maerson Meira 01/10/2014.

MAERSON MEIRA
Enviado por MAERSON MEIRA em 01/10/2014
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