Escolhas

O que há por trás das coisas que enxergamos é um mistério para alguns. Para a maioria, é algo a não se pensar. Melhor deixar a vida correr e não se preocupar em fazer escolhas? Seria melhor pesar todos os lados de uma questão, colocá-los sob o prisma asséptico da ponderação e, aí sim, visualizados os prós e os contras, definir com exatidão o rumo a ser tomado? Mas e quando o coração (por falta de outro nome melhor) nos leva a escolher sem nenhum critério além do “porque-sim-e-não-me-pergunte-nada-pois-eu-não-sei-explicar?”

Chama-se a isso de intuição. O que nada mais é do que um mero nome que damos às sensações, ou quase certezas, sobre as quais não temos (ou não queremos ter) nenhuma influência. Ser intuitivo seria, portanto, ser inconsequente? Ou seja, deixar que façamos as escolhas de nossas vidas a esmo, sem critério, sem racionalização? Ou será que a intuição é, no fim das contas, a racionalização internalizada, de que alguém (ou algo) superior nos dota para que não precisemos gastar nosso tempo em ponderações enfadonhas, fazendo gráficos, listando situações, imaginando cenários...?

Porque nem tudo na vida pode ser resumido em números e tabelas. Há coisas para as quais não possuímos dados suficientes para alimentar um esquema racional. Aliás, na maioria das vezes, nossas escolhas nem passam perto disso. Somos bombardeados diariamente pela necessidade de definição: desde as coisas mais banais do cotidiano - o que vou vestir hoje, qual perfume uso, saio ou não com aquela pessoa, o que vou almoçar? – até algumas mais difíceis, que provavelmente a todos nós um dia já se apresentaram, e ante as quais titubeamos infinitamente até tomar um rumo. E, o que é pior, sem jamais termos a contrapartida: o feedback da validade ou não de nossa escolha, pois que ela se limitou a uma só, e nunca saberemos as consequencias daquelas das quais abdicamos.

Às vezes parece muito injusto. Existem impasses, escolhas que devemos fazer entre possibilidades que parecem, todas elas, muito viáveis e encantadoras. Mas infelizmente em nosso mundo devemos optar. E uma opção muitas vezes anula ou inviabiliza todas as outras.

Escolhas sempre envolvem riscos. E a intuição, ou qual nome se queira dar para esta sensação que nos garante estarmos totalmente certos mesmo que nada tenhamos de concreto a analisar (ou muitas vezes até completamente contra as evidências), ainda continua sendo um dos critérios mais utilizados para definir essas escolhas. É irracional, sim. Mas se a intuição realmente existe, deve estar representada por um pequeno duende que mora dentro de nós - provavelmente em algum cantinho do ventrículo esquerdo -, e que coloca os números do imponderável num computador de última geração, cruza os dados (e os dedos) e obtém, às vezes demoradamente, o resultado de uma equação: essa certeza que sem saber possuímos, e que, noves fora, resume a busca da felicidade.