Isso é Desumano
Já é costume nas transmissões televisivas de futebol e também radiofônicas os narradores e comentaristas recorrerem aos recursos audiovisuais por diversas vezes, para chegarem à conclusão de que o árbitro acertou ou errou ao marcar ou deixar de marcar algum lance.
Assim como os juízes de futebol os narradores e comentaristas estão ali para “enxergarem” os lances em primeira mão, traduzi-los e os transmitir para os seus espectadores e telespectadores.
É evidente que ninguém tem a capacidade de ver tudo o que se passa e com tanta nitidez como as dezenas de câmeras dispostas estrategicamente em pontos vários do estádio. Mesmo assim muitas das vezes o revelado por apenas uma das câmaras não é suficiente para se chegar a uma conclusão, sendo necessário recorrer aos registros de outros dispositivos, para, só então chegar-se a uma conclusão.
Muitas vezes o corpo ou parte dele limita a visão do árbitro e ou bandeirinha e na velocidade em que a jogada acontece, às vezes é humanamente impossível visualizar certos detalhes.
Todo aquele contingente de narradores, comentaristas, críticos etc., após o evento sobre o qual querem polemizar, fica ali vendo, revendo e discutindo exaustivamente uma única jogada e mesmo assim nem sempre há a unanimidade de entendimento entre eles.
Quando chegam, após tantas reprojeções do fato, a uma conclusão quanto ao desacerto do árbitro, sacrificam a sua idoneidade, rotulam-no incompetente, fraco, indigno de apitar aquela partida.
Eles, os comentaristas, analistas e críticos esportivos e narradores, julgam-se no direito de errar, mesmo após fazerem uso de tantos recursos tecnológicos e de calorosos debates entre eles. Afinal de contas quem tem a obrigação de acertar é o juiz e não eles, que estão ali só para atuar sobre o que já passou.
Assim fica muito fácil: esperam-se o ocorrido em um lance “relâmpago” para o juiz, veem, reveem, congelam a imagem, colocam-na em câmara lenta, alteram o ângulo de visão e tudo o mais e depois vão massacrar aquele que tem apenas uma fração de segundo para decidir.
Como pudemos ver nesta Copa do Mundo de Futebol de 2014, aqui no Brasil, dezenas de câmaras foram posicionadas em cima, embaixo, dos lados, nos cantos, atrás e sobre os gols e em tantos outros lugares, para reproduzir sob diversos contextos uma situação de interesse.
Atente-se para o fato de os recursos tecnológicos foram concebidos para serem precisos, incontestes, carregam consigo toda uma carga de sentimentos, emoções e pressões advindas de todos os lados.
Quando paira dúvida sobre determinada situação, uma vez que o meio mediador é uma máquina ou equipamento, normalmente não há o que contestar, mas, se por outro lado, trata-se de um ser humano, a reação é totalmente diferente e não raro desleal.
Não é incomum após se assinalar uma infração, ou deixar de assinalar uma circunstância tida por infração, ambas as partes reclamarem do juiz, ou seja: há situações em que, indiferente da conduta do juiz, ambas as partes, em performances notoriamente teatrais, julgam-se sentem prejudicadas e direcionam suas iras sobre aquele coitado.
Não pretendo aqui aliviar para aquele árbitro que comete erro grosseiro e até tendencioso, em determinadas circunstâncias. O meu desejo é que os profissionais de rádio, televisão, jornais e revistas especializadas, que vivem nesse meio, deixem de praticar essa covardia contra os árbitros de futebol. Afinal, a condição humana não permite, nem a eles, nem a qualquer que seja, acertar sempre.