VORACIDADE
Almoçando ontem em um excelente restaurante de comida mineira, em Juiz de Fora, eu e meu marido, sentados próximos ao bufê (único lugar vago quando entramos) observávamos o comportamento de alguns clientes. Era um destes restaurantes tipo “all-you-can-eat”, no qual as pessoas pagam um preço único e servem-se o quanto desejarem. Em uma das mesas, onde estavam sentados um casal e o filho pequeno, a moça foi ao bufê muitas vezes, e a cada vez, voltava para a mesa com pratos cheios – obviamente, eles não devem ter conseguido comer toda aquela comida! Enquanto isso, reparei em um senhor que encheu o prato quatro vezes. Seu estômago volumoso e seu rosto vermelho demonstravam o esforço que seu organismo deveria estar fazendo para digerir toda aquela comida.
Acima dos pratos, na parede do bufê, o anúncio: “Por favor, Evitem desperdício de comida!” Acredito que ninguém o tenha lido. Pensei no quanto os seres humanos são vorazes e egoístas. Da mesma maneira que serviam-se naquele bufê (pegando mais comida do que seriam capazes de comer ou do que seria aconselhável à sua própria saúde), nós, “humanos,” depredamos florestas, secamos rios, eliminamos outras espécies e disputamos vagas em empresas passando por cima de outras pessoas – sabotando-as se preciso. E há os que dizem: “É a lei da sobrevivência!”
Nos queixamos dos políticos que estão lá, eleitos por nós, depredando o povo e os recursos do país, mas quantos faríamos diferente se estivéssemos no lugar deles? Para mim, eles apenas retratam as convicções da maioria das pessoas. A ordem da vida é pegar o máximo que for possível, encher os pratos e as mãos, comer até vomitar; afinal, é preço único, e ninguém quer ser chamado de tolo... a vida deve ser aproveitada “ao máximo.”
Na volta para casa, já anoitecendo, vemos na estrada quilômetros de florestas pegando fogo, e imaginamos quantos animais e quantas plantas estavam sendo destruídos ali; certamente, através das mãos de alguém egoísta que acha bonito ver o mato pegar fogo. Enquanto isso, passamos por uma senhora que lavava a calçada com jatos de mangueira, ignorando as queimadas, a estiagem e a falta d’água.
Chegamos em casa, e ao ligar a TV, vemos um grupo de adolescentes de skate surrando um cão que tentava desesperadamente escapar de dentro da pista escorregadia.
Amanheci pessimista.
Deus errou. Deveria ter descansado bem antes do sétimo dia. Antes de criar a raça humana.