MAL ESTAR MODERNO I
    
          Preocupa-me bastante hoje esta questão à respeito do uso de aparelhos celulares e similares de forma compulsiva. Estas ações incontroláveis que grande parte das pessoas, e quando falo grande parte é porque todos os níveis econômicos e intelectuais estão envolvidos, parecem sofrer de uma histeria coletiva. Os aplicativos sociais parecem que vieram para neutralizar a presença, banalizando as convivências, exacerbando a superficialidade e incrementando o senso comum. O manusear o aparelho é uma rotina que se constrói pelo viciante exercício diário cibernético, que parece preencher vazios inconscientes em detrimento de uma autoconsciência, ausência de um ato crítico subjetivo. As pessoas estão desvalorizando atitudes como respeito, cortesia e camaradagem. Não raro palestrantes sentem-se frustrados em seus colóquios diante de uma platéia dividida entre a atenção à ele e ao aparelho celular. Falta de educação ou ignorância compulsiva? Em sala de aula, professores "absoletos" diante de alunos alheios aos ensinamentos, preocupados simplesmente em mergulharem mais fundo na superficialidade e futilidades grupais. Seria resultado de uma já fragilidade sociopsicoemocional? Tudo é motivo para registros fotovideográficos, até a alimentação, uma das necessidades sagradas do homem, é posta em rede, exibida não sei por qual motivo! Necessidade de ser visto? Uma satisfação do que se estar a comer que particularmente não enche a minha barriga nem a meu ego.

          Existe uma nova corrente de estudiosos que engrossa a visão pós-moderna de que o uso destas parafernálias em sala de aula é o futuro da aprendizagem, onde o aluno de amanhã construirá seu conhecimento por si só, através das informações que estão "em toda parte" da rede! Devo lembrar que existe uma diferença cabal entre conhecer e saber! Eu acredito que as experiências virtuais jamais substituirão as experiências reais de vida, estas, conseguidas e construídas ao longo dos anos, com trabalho, os pés no chão, e não através de uma chocadeira ligada por uma fibra ótica, com respostas prontas, enlatadas, muitas vezes duvidosas e enganosas. Não seria estas experiências (pós modernas) um lago de águas rasas? Sem nenhuma garantia para um seguro navegar! A esta altura devo dizer que não sou contra esta modernidade, acho que devemos avançar sim, simplesmente vejo com reservas o ato de se autocompelir ao uso indiscriminado e abusivo, sem limites, que toda a sociedade está imersa atualmente, consumindo-se cada vez mais e mais, rompendo com o coletivo presente, olho no olho, integral, para dar lugar ao estar virtual.

          Acredito que muita gente pensa como eu, talvez até um pouco mais além,numa visão entre a dimensão "de ser e a de como ser" neste mundo em constante transformação. Falando em mundo, vive-se num mundo de conflitos desde sempre. Sempre vivemos neste mundo com este feitio, porque este mundo é fruto do caos! A ordem nunca é subvertida por um caos organizado, pois ele em algum momento, ira gerar uma nova ordem, até que o ciclo se complete e tudo seja reiniciado. Se hoje as distâncias foram quebradas com a comunicação avançada da modernidade, amanhã, quem sabe, porque o futuro não existe, ele é inventado e projetado, poderemos estar falando novamente na lingua dos tambores e com sinais de fumaça novamente!
Ricardo Mascarenhas
Enviado por Ricardo Mascarenhas em 27/09/2014
Reeditado em 12/03/2021
Código do texto: T4978834
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