Dia de tristeza
Já era semana do natal, e sonhávamos com os presentes que as madres do convento nos dariam. A distribuição seria na praça da cidade e com certeza testemunhada por todos os políticos, pois, queriam auferir um pouco do crédito pela distribuição. Eu morava em uma vila paupérrima nos arredores da cidade. Não sei por qual motivo demorei a dormir ansiedade talvez, mas acordei tarde, quase na hora da distribuição. Sai como um corisco e em poucos minutos entrei na cidade. Para minha tristeza uma fila enorme que dobrava quarteirões, mas parece que tinha bastante presente. As horas foram passando, os presentes diminuindo e com o coração aos pulos comecei a selecionar os presentes que estavam à vista. Bom contanto que não me deem aquele jacaré verde. Realmente tinha um jacaré de plástico horrível de se ver quando era puxado rebolava. A ofensa aos verdadeiros era grave. Por volta de onze horas e os presentes raleando já via o safado do jacaré com certa simpatia. Mas não adiantou acabaram-se os presentes. Sobrei apenas eu e mais uns quinze que ficaram chupando o dedo. A madre superiora se desculpou e entre os elogios de autoridades e políticos com um sorriso angelical nos convidou a voltar no ano seguinte. Foi uma das poucas vezes que encontrei com o pessoal de igreja. Meu destino é incerto, mas se no céu tiver aquela madre superiora, dispenso a gentileza quero ir para o inferno, pois o céu acho que não presta. Em todos estes anos que vivi procuro me isolar nesta época, pois sei da tristeza que é não ganhar nem que seja um jacaré verde. Dar presente a filhos, netos enfim parente é fácil, mas tente, só tente dar um presente humilde, mas a um desconhecido que sonha com o danado dia e noite e vai dormir sem nada “Nem o jacaré verde”.
Oripê Machado.
Veneno de Cobra.