Sonho cor-de-prosa
Bicicritinha bonitinha era aquela do Matusalém, o Zalém. Devia ser a única daquele tamanho, cor e forma no Brumado: aro 22, cor de rosa e, ainda por cima, de moça.
Mas quem eh que se ligava com aquela anomalia, alias ela ateh se tornava mais atraente e mais facil de ser montada. Isso nao quer dizer que as moças não se prestem à funcão. Fique aqui a advertência.
Voltando a falar em montar, quem eh que nao queria naquela bicicleta de sonho uma volta dar? E não eh que a chance me apareceu, sem ao menos pedi-la eu?
Pintou o Zalem lá na nossa rua, que era a mais plana do Brumado, mais plana e com menos pedregulho do que qualquer uma das outras seis ou sete que restavam. E os olhos da meninada todos voltados para aquele verdadeiro objeto dos desejos.
Eu devia ter meus sete anos, o Zalém ja teria passado dos doze. E assim que ele para, todo mundo em volta da máquina, uns pegam na
campainha, outros no guidon, no farol, botam aqui e ali a mãozinha, pegar não eh molestar.
E de repente, triunfal, me vejo eu trepado no selim, Zalém empurrando, olha pra frente, faz assim e não é que mesmo firmemente amparado senti o equilibrio conquistado, ia lento, mas por dentro, o coração
disparado. Ao cabo da volta ja tava eu achando ter quase aprendido, a máquina dominado, mas qual nao foi minha frustração ser logo ali acordado?