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Precisei frequentar os rincões de mim mesmo para encontrar sobras de um vulto. No fundo do meu abismo estou e de lá produzo o que não será entendido agora. Todo agora está corrompido e eu que sou de depois, não verei o espanto quando eu for apresentado. Se serei degustado, não importa; matarei fomes de alguns. Sou o alimento que engordará os faquires de vida e a gordura para os definhados de mundo.

Do precipício de mim, ecos são ouvidos. Quem sou eu? Uma pergunta me atormenta; algumas respostas me perseguem. Mas que importa a minha construção? Derrubo os castelos de mim mesmo amiúde. Sou vendaval e tempestade de areia. Cego aqueles que pensam que estão com os olhos arregalados. Minha missão é a não missão.

Decerto, alguns me chamarão de arrogante. Estão certos! Sou e serei e sou! Covardes abaixem a cabeça e olhem de baixo a montanha que se ergueu. Todos são verdades e certezas; sou descaso. Todos os planos que foram feitos; rasguei. Não queiram de um anti-deus, algo previsível.

O contrário do avesso do avesso, sou! Nunca fui a favor de continuidade. Nunca li sequências. Nunca contei estrelas. A continuação é deprimente e busca a recopilação. Se querem me encontrar, procurem-me no cemitério, pois lá encontrarão meu cadáver; restos de mim esquartejados.

O que aqui está, foi!

Para quantos deuses já rezei?

Para quantos eus já pequei?

Vivo no fundo do fundo do precipício de mim e de lá, escancaro-me. Sou corpo nu passeando pelo mundo vestido de grifes. Certamente, serei preso por atentado ao pudor e o meu órgão será exposto como o grande troféu. Não sou pornográfico; sou explícito! Quem quiser que me censure, contudo, entenda, primeiro, a sua própria castração.

Um dia, certamente, serei julgado - todo artista é um réu confesso!

Mas, não há justiça que condene aquele que entendeu o jogo dos poderes. Não há grades que aprisionem quem encontrou as chaves das cadeias.

Sou um impostor! Sou um parlapatão!

Não defino, definho!

Cadê? Perguntei para mim mesmo onde estou. Ecos responderam. Entre os polos do mundo, no caminho da vida e nos fins de mim mesmo.

Sou um hipócrita! Sou um falsário!

Sou a pororoca! Encontro de vida e morte.

Sou morte em vida e vida e pronto.

Aquele que não entende; não se sabe!

Somente cobras e ratos devorarão a comida que sirvo fria. Muitos negarão ao convite para cear; poucos têm paladar para saborear o amargo e o fel. Paladares infantis tem a maioria.

Sou a comida azeda que provoca vômito!

Mário Paternostro