O CANDIDATO TRAPALHÃO (III)
Ante a absoluta falta de recursos, apesar de todas suas tentativas de conquistar apoios dos homens e mulheres de negócios, Araújo – o candidato trapalhão – resolveu investir no corpo a corpo. Visitava feiras, plantava-se na porta de igrejas em horário de missa, estendia a mão a todos que por ele cruzavam, dava tapinhas nas costas de manequim de loja, abraçava postes, comprometia-se com qualquer causa, por mais estapafúrdia que fosse... Incansável, ficava no ar 18 horas por dia, muitas vezes só na base da água e do cafezinho gratuito. Sempre tem uma alma boa.
Até que Osvaldinho – que agora não era mais dublê de motorista e marqueteiro, pela triste razão de que acabara o dinheiro para abastecer o fusca – teve uma idéia:
-- Araújo, nós vamos mudar a estratégia, já fizemos muito corpo a corpo, agora será olhos nos olhos: você vai dar palestras para um público mais qualificado. Consegui a primeira. Será amanhã, para alunos de Direito daquela faculdade do bairro. Prepare-se, faça a barba, tome banho bem tomado, descanse durante o dia, para não chegar lá com essa cara amarrotada. Vai falar sobre suas propostas.
E assim foi feito. Araújo prometeu lutar por isso e aquilo, não se intimidou ante os que lhe diziam que aquelas não eram prerrogativas de vereador. Respondia convicto: “Tem de ter vontade política”. O caldo entornou quando fez aquela que, a seu ver, seria a declaração mais impactante:
-- Seja quem for o prefeito, estarei sempre ao seu lado, porque quem está na oposição nada faz, nada leva. Nem pra si, nem pros outros. Serei sempre situação.
Saiu sob vaias e xingamentos. Até hoje, não entendeu o motivo.
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