Leitura da Rua (3)
 
 
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O Homem e o Cavalo.
 
 
Sábado, passava um pouco das 4 da tarde quando Amarildo chega em casa com sua carroça. Era possível ver que tanto ele quanto o cavalo estavam cansados pela labuta da semana.
 
Antes mesmo de cuidar de si Amarildo foi cuidar de Pampinho.
 
Soltou o arreio, ergueu o varal da carroça, livrando o animal.  Colocou água no cocho, em outro farelo e raspas de capim.
 
Neste instante Neuza, a mulher de Amarildo chega até o portão dizendo para que entre, pois o almoço está à mesa.
 
Amarildo em simples gesto pede que ela espere, para cuidar de Pampinho, seu companheiro.  Neuza faz uma carinha de quem não gostou, mas nada fala, e entra.
 
O homem pega o balde com água e a escova e vai até o cavalo para uma refrescada, pois mesmo no final da tarde fazia calor. Percebia-se a harmonia entre os dois. 
 
Pudera, os dois passam mais tempo juntos, do que Amarildo com a mulher e filhos.
 
O cavaleiro jogava água, alisava o cavalo com as mãos e depois com a escova. Passou uma hora.
 
Neuza novamente chama Amarildo, mas ele sequer olha pro lado, continuando o harmonioso ritual com seu companheiro.  Os dois se entendiam em tudo.
 
Neste instante Amarildo disse: ‘É Pampinho, ainda bem que chegou o final de semana, vai dar para descansar, e na segunda vamos ter trabalho pra danar, fazendo a limpeza na casa de Aurinha’.
 
Parece até que Pampinho entendeu bem a conversa quando Amarildo falou de Aurinha, pois parou de comer e virou a cabeça para seu lado.  E o carroceiro, também entendendo a olhada do cavalo falou, é isso mesmo, da Aurinha, aquela exigente que fica falando o tempo todo em nossos ouvidos’. 

Pampinho chacoalhou o corpo, ficou como que pensativo, e somente depois um tempo voltou a comer seu farelo, capim e a tomar água.

 
É Pampinho, mas fique tranquilo que é a última vez que vamos lá, já que Aurinha vendeu a casa e quer fazer a limpeza para a entrega, e vai morar em São Paulo.  O cavalo novamente se voltou para o cavaleiro e como num sinal de alegria relinchou e foi acomodar-se à sombra.
 
Neuzinha saiu novamente no portão e ai, com certo grau de irritação na voz disse: ‘Amarildo, venha que não posso mais esperar, estou com fome, você sabe que só almoço quando você está à mesa, se não vier agora não vou almoçar mais.

Amarildo num gesto de amabilidade e compreensão disse:  ‘Neuzinha, você sabe que gosto de seu carinho em só almoçar comigo à mesa, mas compreenda também que Pampinho me ajudou a ganhar o pão do dia a dia e ele merece e precisa de meus cuidados’.
 
Neuzinha olhou para Amarildo com os mesmos sentimento, foi até Pampinho, passou a mão em sua cara e depois a raspadeira em seu lombo, agradecendo pelo trabalho da semana, voltou para o marido, enlaçou-se em seu braço e foram se preparar, num banho, para o almoço-jantar, pois passava das seis e meia da tarde.
 
Amarildo e Neuzinha estavam cansados, mas com a felicidade estampada nos rostos.
 
Pampinho, de longe curtia seu momento-sossego.
Brasilino Neto
Enviado por Brasilino Neto em 22/09/2014
Reeditado em 23/09/2014
Código do texto: T4972445
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